ATENÇÃO: Contém Spoilers
Uma viagem ao outro lado do universo para
desvendar o que está mesmo por baixo do tapete.
Christopher Nolan regressa ao grande ecrã
com mais um filme de ficção (neste caso cientifica), que transparece uma
complexidade emocional muito diferente do género.
Matthew McConaughey não está no topo das
suas performances, mas consegue cativar o espectador. Anne Hathaway fica muito
longe de qualquer expectativa, talvez pela superficialidade da sua personagem.
Jessica Chastain e Michael Caine são os actores mais presentes em todo o filme,
mantêm uma enorme solidez e firmeza nas suas interpretações.
O deslumbre dos efeitos especiais e da
ginástica gráfica ao longo do filme fez perder um interesse especial na
qualidade e fundamentação das personagens, ou seja, traduzindo isto por
palavras miúdas, qualquer uma das criações fictícias de Nolan tem uma
gigantesca ausência de conhecimento e conteúdo. É complicado definir qualquer
que seja a personagem neste filme, porque na realidade nenhum de nós consegue verdadeiramente
conhecer aquilo que nos é apresentado, é essa ausência de características que é
notável (e evidente) ao longo do filme.
O argumento é complexo, equilibrado, e
intenso, qualidades difíceis de reunir, mas que os irmãos Nolan parecem
conseguir fundir. (Sendo que Jonathan Nolan continua a ser o génio da escrita.)
Hans Zimmer é a chave para uma viagem
intensa ao espaço, sem nunca perder o ritmo e o interesse musical (mas isto não
constitui uma grande surpresa).
A fotografia e os efeitos especiais são de
elevadíssima qualidade, e muito provavelmente terão lugar marcado nos óscares
deste ano.
O que mais desilude em todo o filme é o
final extremamente previsível, e quase que poderei dizer enfadonho. Após estar
longas horas à espera de uma resolução lógica e inesperada, eis que Nolan nos
surpreende com algo esperado (e de certa forma óbvio). Utilizando uma metáfora
simples é como caminhar numa estrada cravejada de obstáculos e na meta não
existe nenhuma surpresa ou recompensa, apenas mais do mesmo. Com isto não
alimento a premissa de que o filme possa ser aquilo a que designamos de mau,
mas na realidade não acrescenta nada de surpreendente.
Confesso que a princípio a ideia de que o
amor é a maior força universalmente desconhecida e intemporal, causa muita
relutância aos mais cépticos, e parece-me algo forçada. Mas se analisarmos com alguma serenidade e equilíbrio
percebemos que o verdadeiro objectivo de Nolan não é afirmar que o amor é a
resolução para todos os problemas da humanidade, mas sim a confiança que nasce a partir de
relações humanas, que se tornam estreitas e atentas com o tempo, e de certa forma com os espaço. Ou seja, o amor
é um cocktail de tantos outros sentimentos e situações, que culminam na esperança de
acreditar que o espaço e o tempo não são imutáveis. Ainda mais interessante do
que o significado do amor é aquilo que ele representa, é o papel que desempenha na luta pela sobrevivência
e na preservação da espécie. Esse sim é o tema essencial e fulcral em todo este
filme. Até onde somos capazes de ir para sobreviver? Serão os laços entre nós suficientes?
Em suma, o filme é magnificamente
complexo, mas dificilmente alcançável.