quinta-feira, novembro 20

Interstellar


ATENÇÃO: Contém Spoilers

Uma viagem ao outro lado do universo para desvendar o que está mesmo por baixo do tapete.

Christopher Nolan regressa ao grande ecrã com mais um filme de ficção (neste caso cientifica), que transparece uma complexidade emocional muito diferente do género.
Matthew McConaughey não está no topo das suas performances, mas consegue cativar o espectador. Anne Hathaway fica muito longe de qualquer expectativa, talvez pela superficialidade da sua personagem. Jessica Chastain e Michael Caine são os actores mais presentes em todo o filme, mantêm uma enorme solidez e firmeza nas suas interpretações.
O deslumbre dos efeitos especiais e da ginástica gráfica ao longo do filme fez perder um interesse especial na qualidade e fundamentação das personagens, ou seja, traduzindo isto por palavras miúdas, qualquer uma das criações fictícias de Nolan tem uma gigantesca ausência de conhecimento e conteúdo. É complicado definir qualquer que seja a personagem neste filme, porque na realidade nenhum de nós consegue verdadeiramente conhecer aquilo que nos é apresentado, é essa ausência de características que é notável (e evidente) ao longo do filme. 
O argumento é complexo, equilibrado, e intenso, qualidades difíceis de reunir, mas que os irmãos Nolan parecem conseguir fundir. (Sendo que Jonathan Nolan continua a ser o génio da escrita.)
Hans Zimmer é a chave para uma viagem intensa ao espaço, sem nunca perder o ritmo e o interesse musical (mas isto não constitui uma grande surpresa).
A fotografia e os efeitos especiais são de elevadíssima qualidade, e muito provavelmente terão lugar marcado nos óscares deste ano.
O que mais desilude em todo o filme é o final extremamente previsível, e quase que poderei dizer enfadonho. Após estar longas horas à espera de uma resolução lógica e inesperada, eis que Nolan nos surpreende com algo esperado (e de certa forma óbvio). Utilizando uma metáfora simples é como caminhar numa estrada cravejada de obstáculos e na meta não existe nenhuma surpresa ou recompensa, apenas mais do mesmo. Com isto não alimento a premissa de que o filme possa ser aquilo a que designamos de mau, mas na realidade não acrescenta nada de surpreendente.
Confesso que a princípio a ideia de que o amor é a maior força universalmente desconhecida e intemporal, causa muita relutância aos mais cépticos, e parece-me algo forçada. Mas se analisarmos com alguma serenidade e equilíbrio percebemos que o verdadeiro objectivo de Nolan não é afirmar que o amor é a resolução para todos os problemas da humanidade, mas sim a confiança que nasce a partir de relações humanas, que se tornam estreitas e atentas com o tempo, e de certa forma com os espaço. Ou seja, o amor é um cocktail de tantos outros sentimentos e situações, que culminam na esperança de acreditar que o espaço e o tempo não são imutáveis. Ainda mais interessante do que o significado do amor é aquilo que ele representa, é o papel que desempenha na luta pela sobrevivência e na preservação da espécie. Esse sim é o tema essencial e fulcral em todo este filme. Até onde somos capazes de ir para sobreviver? Serão os laços entre nós suficientes?

Em suma, o filme é magnificamente complexo, mas dificilmente alcançável.