quinta-feira, novembro 6

Fénix - Parte 1

Cecília ouviu um ruído metálico e estridente, abriu os olhos e o negrume manteve-se à sua volta. Conseguia sentir o inox gélido onde a tinham deitado, mas não sentia o peso da roupa, nem o ar exterior. Lançou as mãos para a frente e apercebeu-se que estava presa numa caixa. Seria um caixão? Olhou para os pés e viu uma fresta de luz. Impaciente e nervosa pontapeou a parede, que lhe parecia uma porta resistente, nada se mexeu. Continuou a forçar a parede frenética e insistentemente, sem obter resultado algum. O barulho que a tinha acordado foi extinto com a mesma rapidez com que havia aparecido. Não sabia se era o pânico, ou se de facto já não existiam ondas sonoras que produzissem aquele som. Ao fim de várias tentativas infrutíferas deixou de tentar abrir a porta (ou parede) que deixava escapar uma aresta de luz. Manteve-se em silêncio durante escassos minutos, o frio venceu-a e o seu corpo começou a tremer.

Edgar trabalhava na morgue de um centro de doenças infecto-contagiosas. Há muito tempo que não tinham tantas autópsias em atraso, há décadas que não davam tanta importância ao trabalho que fazia. O cansaço começou a tomar conta do seu corpo, já não aguentava nem mais um minuto. Edgar caminhou praticamente inanimado para a máquina de café e esperou pacientemente que a cafeína lhe fizesse efeito. Sentiu passos de corrida no corredor. Olhou curioso para a porta automática e esperou que não fosse outra pessoa chamá-lo para mais uma autópsia. – Edgar? – Ed! – Uma voz aguda e, outra grave, gritavam insistentemente por ele. – Sim? – Perguntou pesaroso. – Assim que viu os dois colegas sem fôlego levantou-se num ápice. – Que se passa? – Perguntou nervosamente. – Temos mais cinco! – Edgar deitou o copo de plástico no lixo e desejou que aquele vírus nunca tivesse abandonado o laboratório onde havia sido criado.