Cecília ouviu um ruído
metálico e estridente, abriu os olhos e o negrume manteve-se à sua volta.
Conseguia sentir o inox gélido onde a tinham deitado, mas não sentia o peso da
roupa, nem o ar exterior. Lançou as mãos para a frente e apercebeu-se que
estava presa numa caixa. Seria um caixão? Olhou para os pés e viu uma fresta de
luz. Impaciente e nervosa pontapeou a parede, que lhe parecia uma porta
resistente, nada se mexeu. Continuou a forçar a parede frenética e
insistentemente, sem obter resultado algum. O barulho que a tinha acordado foi extinto com a mesma rapidez com que havia aparecido. Não sabia se era o pânico, ou se de facto já não existiam
ondas sonoras que produzissem aquele som. Ao fim de várias tentativas
infrutíferas deixou de tentar abrir a porta (ou parede) que deixava escapar uma
aresta de luz. Manteve-se em silêncio durante escassos minutos, o frio venceu-a e
o seu corpo começou a tremer.
Edgar trabalhava na
morgue de um centro de doenças infecto-contagiosas. Há muito tempo que não
tinham tantas autópsias em atraso, há décadas que não davam tanta importância
ao trabalho que fazia. O cansaço começou a tomar conta do seu corpo, já não aguentava
nem mais um minuto. Edgar caminhou praticamente inanimado para a
máquina de café e esperou pacientemente que a cafeína lhe fizesse efeito.
Sentiu passos de corrida no corredor. Olhou curioso para a porta automática e
esperou que não fosse outra pessoa chamá-lo para mais uma autópsia. – Edgar? –
Ed! – Uma voz aguda e, outra grave, gritavam insistentemente por ele. – Sim? –
Perguntou pesaroso. – Assim que viu os dois colegas sem fôlego levantou-se num
ápice. – Que se passa? – Perguntou nervosamente. – Temos mais cinco! – Edgar
deitou o copo de plástico no lixo e desejou que aquele vírus nunca tivesse
abandonado o laboratório onde havia sido criado.