Quando Laura olhou em volta não conseguia distinguir
os limites das paredes, a brancura quase que a cegava. Estava um homem sentado
do outro lado da sala, e assim que a viu mexer a cabeça para o ver melhor, ele
levantou-se e pressionou um botão junto à porta, aproximou-se dela e
perguntou-lhe: - Sabe onde está? – Laura abanou a cabeça em sinal de ignorância
e o homem não respondeu à sua própria pergunta. Mais tarde Laura percebeu que
estava interdita de ver familiares, amigos ou qualquer outra pessoa do mundo
exterior. Estava presa num hospício e desta vez o diagnóstico era
esquizofrenia. Aos olhos do mundo Laura tinha tentado assassinar o marido e
depois tentado o suicídio, por mais que negasse ninguém acreditava numa única
palavra que cruzasse os seus lábios, o mundo estava do lado do dinheiro, e não
do lado da justiça. Esteve largos meses fechada num quarto, foi avaliada por
psiquiatras, juízes e advogados, e nenhum deles parecia ter dúvidas de que
estava louca.
Após um ano de internamento Laura teve permissão para
sair do quarto e ir à sala de convívio, não conseguir andar sem ser com a ajuda
de uma cadeira de rodas, ouvia vozes que ecoavam na sua mente e via vultos
durante toda a noite, o seu corpo estava a enfraquecer e a sua mente a
esmorecer. A primeira reação que teve quando saiu foi seguir a claridade da
janela e observar a luz do sol, os quentes raios aqueciam-lhe a pele e
feriam-lhe a vista, mas aquela luminosidade fazia-a terrivelmente feliz. Esteve
durante longos minutos em frente à janela gradeada, de repente ouviu passos aproximarem-se
dela. – Olá! És nova aqui? – Laura baixou a cabeça e fechou os olhos,
conseguia-se ouvir os seus sussurros: - Ele não é real! Ele não é real!
Concentra-te! Ele não é real! – O homem fitou-a e respondeu aos sussurros: -
Gabriel! Muito prazer! – Laura olhou para ele com os olhos cobertos de
volumosas lágrimas, e perguntou: - Como é que eu sei que és real? – O homem
sorriu de forma sarcástica e respondeu: - Essa é a parte engraçada de ser
maluco… É que nunca se sabe o que é ficção! – Laura percebeu a ironia na voz
dele, mas não se conseguia rir, essa era uma memória longínqua e perdida no
tempo. Gabriel estava desiludido por não ter surtido efeito na mulher que ele
achava que precisava de sorrir. – Bem, o meu humor é demasiado negro. –
Conforme respondeu ao olhar entristecido de Laura, ele sorriu e voltou a
caminhar. Laura fechou os olhos com uma enorme força e reabriu-os, Gabriel
tinha desaparecido. Seria ele imaginário?