No dia seguinte Laura não se conseguia mexer, o seu
corpo estava dorido e cada movimento era uma tortura. Dera entrada do hospital
na noite anterior, não precisava de um médico para perder o filho, o pai do
feto tinha tratado do assunto. Estava deitada na cama do hospital e os pais já
tinham ido vê-la, ambos perceberam o que se tinha passado e tentaram agir em
conformidade, mas o poder e o dinheiro do genro eram implacáveis e difíceis de
alcançar. Laura contou a verdade aos pais na terceira visita, eles
explicaram-lhe que Rui tinha alegado que ela tinha ataques de histeria
constantemente e que tentara agredi-lo. Ela foi analisada por um psiquiatra que
alegou que Laura estava traumatizada e que tinha sintomas de bipolaridade,
segundo a descrição feita pelo marido. Cada vez que ele entrava no quarto dela,
Laura gritava como se a estivessem a torturar, e dizia que nunca mais o queria
ver próximo dela, tomou doses abismais de medicação e não melhorava, piorava a
cada dia e não conseguia sair do hospital. Meses depois Rui levou-a novamente
para casa, ela não conseguia encará-lo e o medo começava a ser uma constante. –
Porque fizeste isto? – Porque te amo! – Respondeu Rui num tom doce. Laura não
se atreveu a responder, não se mexeu e limitou-se a deitar-se na cama.
Dias depois de estar em casa Laura quis sair, vestiu
uma roupa confortável e desportiva e foi para o café onde ia habitualmente. O
dono do estabelecimento desejou-lhe as melhoras, e ela sentou-se na mesa do
canto a ler uma revista. – Laura? – Ela levantou os olhos e seguiu a voz rouca
que a chamava, respondendo: - Artur! – Levantou-se num ápice e abraçou o seu
amigo e par. – Como estás rapariga? Há imenso tempo que não te vejo! Estás
gloriosa como sempre! – Laura riu-se e respondeu: - E tu és um exagerado como
sempre! Como está o Jorge? Já marcaram o casamento? – Ele está óptimo, e eu
também! Vamos casar em Dezembro! Mal posso esperar! – Ficaram sentados a
conversar durante horas, até que a escuridão de inverno começou a cair, e Laura
teve de regressar a casa. Quando pôs a chave na porta a governanta abriu-a do
outro lado, o pesar do olhar da mulher não fazia prever nada de bom. – O Senhor
Rui está à sua espera no escritório. – O corpo de Laura estremeceu, o sangue
começou a ser bombeado a uma velocidade vertiginosa e o seu estomago
contorceu-se. Assim que abriu a porta do escritório viu o marido sentado no
sofá com um copo de whisky na mão
direita, não fechou a porta, mas também não importava. Rui levantou-se e foi em
direcção a ela, Laura começou a recuar e a gritar, conforme se virou para
começar a correr ele agarrou-a pelo cabelo e disse-lhe: - Só porque não quero
filhos não quer dizer que me andes a trair. – Laura ouviu o copo a
estilhaçar-se no chão e sentiu uma picada no pescoço. Acordou num quarto
branco, gelado e amarrada. Não podia fugir.