quinta-feira, fevereiro 6

Presa - Parte 2: Loucura

No dia seguinte Laura não se conseguia mexer, o seu corpo estava dorido e cada movimento era uma tortura. Dera entrada do hospital na noite anterior, não precisava de um médico para perder o filho, o pai do feto tinha tratado do assunto. Estava deitada na cama do hospital e os pais já tinham ido vê-la, ambos perceberam o que se tinha passado e tentaram agir em conformidade, mas o poder e o dinheiro do genro eram implacáveis e difíceis de alcançar. Laura contou a verdade aos pais na terceira visita, eles explicaram-lhe que Rui tinha alegado que ela tinha ataques de histeria constantemente e que tentara agredi-lo. Ela foi analisada por um psiquiatra que alegou que Laura estava traumatizada e que tinha sintomas de bipolaridade, segundo a descrição feita pelo marido. Cada vez que ele entrava no quarto dela, Laura gritava como se a estivessem a torturar, e dizia que nunca mais o queria ver próximo dela, tomou doses abismais de medicação e não melhorava, piorava a cada dia e não conseguia sair do hospital. Meses depois Rui levou-a novamente para casa, ela não conseguia encará-lo e o medo começava a ser uma constante. – Porque fizeste isto? – Porque te amo! – Respondeu Rui num tom doce. Laura não se atreveu a responder, não se mexeu e limitou-se a deitar-se na cama.

Dias depois de estar em casa Laura quis sair, vestiu uma roupa confortável e desportiva e foi para o café onde ia habitualmente. O dono do estabelecimento desejou-lhe as melhoras, e ela sentou-se na mesa do canto a ler uma revista. – Laura? – Ela levantou os olhos e seguiu a voz rouca que a chamava, respondendo: - Artur! – Levantou-se num ápice e abraçou o seu amigo e par. – Como estás rapariga? Há imenso tempo que não te vejo! Estás gloriosa como sempre! – Laura riu-se e respondeu: - E tu és um exagerado como sempre! Como está o Jorge? Já marcaram o casamento? – Ele está óptimo, e eu também! Vamos casar em Dezembro! Mal posso esperar! – Ficaram sentados a conversar durante horas, até que a escuridão de inverno começou a cair, e Laura teve de regressar a casa. Quando pôs a chave na porta a governanta abriu-a do outro lado, o pesar do olhar da mulher não fazia prever nada de bom. – O Senhor Rui está à sua espera no escritório. – O corpo de Laura estremeceu, o sangue começou a ser bombeado a uma velocidade vertiginosa e o seu estomago contorceu-se. Assim que abriu a porta do escritório viu o marido sentado no sofá com um copo de whisky na mão direita, não fechou a porta, mas também não importava. Rui levantou-se e foi em direcção a ela, Laura começou a recuar e a gritar, conforme se virou para começar a correr ele agarrou-a pelo cabelo e disse-lhe: - Só porque não quero filhos não quer dizer que me andes a trair. – Laura ouviu o copo a estilhaçar-se no chão e sentiu uma picada no pescoço. Acordou num quarto branco, gelado e amarrada. Não podia fugir.