quinta-feira, maio 30

To the Wonder



O que é o amor? Para que serve? Porque nos controla? Porque nos constrói? Porque nos corrói?

Terrence Malick superou-se no seu anterior filme a Árvore da Vida, habituou-nos à poesia cinematográfica, ao despertar da mente e dos sentidos. Chegou-se a pensar que não se superaria novamente mas, conseguiu.
To the Wonder é uma narrativa atraente, envolvente, cativante, espiritual... É um suave caminhar entre almas desesperadas, sombras duvidosas, destinos embrulhados como nós, o amor é o começo e o fim.
O desespero da personagem de Afleck reflecte-se na sua inexpressividade facial, há confusão, dúvida, o seu corpo por outro lado responde aos mais simples estímulos, seja de que natureza for, a dualidade da sua personagem é também a dualidade da sua forma de estar. Rachel MacAdams é simples, rural, a sua sensibilidade é reflexo da sua inocência e pureza, quebrada pelo demónio da paixão. Olga Kurylenko superou-se com momentos magníficos, apaixonantes sorrisos, abraços que não precisam de banda-sonora, somando-lhes um desespero de encontrar rumo, de desistir do que se ama, o sentimento de abandono profundo é geral, e reflecte-se em movimentos corporais excêntricos e estáticos, suaves expressões e ausência delas. Javier Bradem é a essência de todo este desflorar da vida, a benevolência da sua personagem, as constantes invocações e a devoção levam-no a desvendar trilhos espirituais e guiar outros pelo destino.
De todo o filme a cena mais elucidativa é quando Kurylenko e Afleck quebram toda a casa numa acto de raiva, revolta e desespero mas, depois no rescaldo, há como que um pedido de desculpas e um profundo sentimento de culpa, eles apanham os pedaços de vidro quebrados no chão, como se estivessem a apanhar pedaços da sua alma, limpam suavemente os destroços como se polissem e sua essência, é como que um começar de novo no universo espiritual, o renascimento dos sentidos e do espírito.
É um filme magnifico, um deleite para os olhos e para a mente. Combina uma belíssima fotografia com excepcionais interpretações e uma banda-sonora de cortar o fôlego.

domingo, maio 5

A Little Bit of Heaven


Quando a existência balança entre a sobrevivência e a morte, nasce o poder do amor no palco da nossa vida...

A Little Bit of Heaven não fala apenas no amor entre dois estranhos, um homem e uma mulher, fala de amor entre amigos, pais, mães e filhos. Trata de toda uma energia que faz girar o mundo de uma forma continua, constante, intransigente e arrebatadora.
Tecnicamente o filme é normal, sem grandes floridos, sem grande poder no diálogo, interpretações comuns sem nada de relevante a dizer. Mas a ideia, a história de vida é optimista, é divertida, é engraçada, faz rir quando se quer chorar, faz mexer quando se quer dormir. É um filme de espírito leve, simples e divertido que faz pensar e repensar no que a vida nos tem para oferecer, e naquilo que esperamos dela.
Quando estragamos a vida com excesso de viver, ela trai-nos, quando não vivemos com medo de a estragar, arrependemo-nos de nunca ter vivido. Qual a lógica disto? Nenhuma, essa é a verdadeira magia de estar vivo, nunca saber o que vem a seguir.

domingo, abril 28

Hannibal Series Review

O mais brilhante dos serial killers regressa para manipular as nossas inseguranças, e desta vez, promete ser ainda mais macabro...

Antes de começar a falar da magnificência da realização e da supremacia do argumento tenho de salientar a estupenda interpretação de Mads Mikkelsen, o olhar deste actor consegue hipnotizar-nos, confundir-nos e expor-nos de uma forma que nos deixa nervosos e desconfortáveis. O convencional olhar sarcástico e trocista dá lugar a um olhar penetrante e sedutor, que nos poderá corroer o espírito a qualquer instante. Este Hannibal Lecter consegue apaixonarmos e amedrontar-nos de forma anímica, é fascinante e perturbador.
Hugh Dancy é um actor que até aqui não havia surpreendido o público, até interpretar Will Graham e aí, revelar o seu verdadeiro potencial enquanto actor. 
No argumento temos dois homens de renome Thomas Harris, uma presença óbvia e madura em adaptações ligadas a Hannibal, já que foi argumentista de todos os filmes, e Bryan Fuller (também criador), uma surpresa nos bastidores, não pelo seu talento, mas pelo seu estilo de escrita e adaptações. Ambos parecem ser uma combinação improvável mas que funciona de forma engenhosa, por um lado temos o diálogo musical próprio de Fuller e por outro a frieza e escassez de emoção de Harris, como fruto nasce uma brutal sensação de insegurança e medo que cria instabilidade em qualquer mente sã.
Na realização destaca-se Michael Rymer e David Slade que apesar de alguns momentos mais obscuro desenvolvem trabalhos majestosos em títulos como Hard Candy, Breaking Bad, American Horror Story, Queen of the Damned, Galactica e Flashfoward. Guillermo Navarro é para mim o elo mais fraco da equipa de realização, sem dúvida o mais aclamado e conceituado, mas o que me deixa maior margem para dúvidas, tem uma filmografia muito sensacionalista, não tendo experiência no campo da realização, no entanto é sem dúvida um gigantesco ponto forte na fotografia, que é já bastante evidente na série Hannibal.
Lecter atormentou-nos durante anos no cinema, fascinou-nos e troçou da nossa instabilidade, hoje no ano seguinte ao fim do mundo, Hannibal regressa em televisão e promete continuar a ser uma presença constante nos nossos piores pesadelos e quem sabe na nossa ementa... 
Bon Appetit!

The Borgias Season 3 Review

The Original Crime Family Returns...

Borgias inicia uma temporada com intriga política, duelos intelectuais e triângulos sexuais altamente apelativos para o espectador. Neil Jordan lança todos os seus trunfos em menos de meia dúzia de episódios, será isto uma estratégia para manter as audiências ou uma tentativa desesperada de aumentar o interesse do público? Ainda não consegui encontrar uma resposta a esta questão, contudo consigo dizer que a terceira temporada de Borgias têm mantido a tensão, apesar de estarmos num período caótico da série, a realização e argumento continuam a lançar os seus maiores trunfos sem nunca perder o interesse, quanto tempo isto irá durar é algo que esperaremos para ver. Não querendo ser pessimista tudo indica que entraremos num período de carência muito em breve, conto com a astucia da equipa técnica para sair deste entrelaço. Até lá desfrutemos do melhor que Borgias tem para oferecer, com uma Holiday Granger a superar todas as expectativas, um François Arnaurd melhor do que se poderia imaginar e um Jeremy Irons perfeito, como sempre... Deixemo-nos envolver pelo ciclo de incesto, na teia de intriga e jogos de poder. 

domingo, abril 14

Safe Haven

Duas vidas, dois destinos, uma romântica e emocionante encruzilhada...

Qual a mulher, ou até mesmo homem, que nunca leu um livro de Nicholas Sparks? Quem nunca viu o The Notebook? Na verdade ninguém escapa às histórias deste escritor, ninguém consegue evitar emocionar-se com os seus livros, mas com os filmes a história é ligeiramente diferente. Foram muitas as adaptações dos romances do autor, sendo que o The Notebook continua a ser o preferido do público, não só pela história como também pelas notáveis interpretações. Apesar de termos filmes marcantes baseados nas suas obras como Message on the Bottle ou Nights in Rodanthe, nunca nenhuma superou o sucesso do "Diário da Nossa Paixão".

Tenho uma confissão a fazer, enquanto adolescente li a maioria das obras de Sparks (se não mesmo todas), e confesso que as minhas favoritas eram A Bend in the Road e Safe Haven... E como antiga apreciadora do escritor, e do próprio livro, não fiquei muito contente com a adaptação, mas confesso que também não fiquei totalmente desapontada.
A realização está muito semelhante aos filmes anteriores (mais recentes), possui um argumento envolvente e finalmente temos interpretações um pouco fora do tradicional cliché, no entanto, ainda temos momentos de fraco envolvimento entre personagens, e cenas muito pouco exploradas. Existe uma fórmula mágica para este tipo de filmes, dois actores excepcionalmente bonitos, um cenário romântico de pôr-do-sol, e uma música ligeira, por esse motivo, esperava que este fugisse deste módulo, não o faz, mas tem momentos que conseguem ser bastante interessantes, e com uma fotografia atraente.
Visto ser a adaptação de um dos meus livros favoritos do autor a minha opinião pode ser considerada um pouco parcial, contudo posso assegurar-vos que é um filme ligeiro para um domingo à tarde, ou uma sessão romântica de cinema, mais do que isso, penso que não.
Conselho, antes de ver, leiam o livro...

The Host

Stephenie Meyer regressa sem vampiros e com ficção cientifica que consegue superar as expectativas dos mais cépticos...

The Host é mais um daqueles filmes que inspira potencial, mas que não consegue ser o que se espera de um filme de ficção cientifica. O argumento tem os típicos buracos sem sentido e os momentos constrangedores que tornam todo o diálogo ridículo e enfadonho. O ponto forte deste filme é sem dúvida os efeitos sonoros e visuais que iguala as expectativas para um filme do género.
Saoirse Ronan é uma actriz jovem que já demonstrou aquilo que é capaz de fazer na tela, sobretudo nos filmes de Joe Whright em que é protagonista, nesta película em particular não achei que estivesse no seu melhor nível, mas também não esteve especialmente mal. Diane Kruger está quase perfeita, consegue trazer algum ritmo ao filme e iluminar algumas das cenas.
Não é um filme de ficção cientifica (com muita pena minha, e pareceu-se que esse também não era o objectivo) é apenas um romance com momentos de realidade mais avançada no tempo. Esteve quase lá, mas faltou o quase...

terça-feira, abril 2

Game of Thrones Season 3 - Review

Finalmente, onze meses depois, Game of Thrones chegou...

Tyrion continua a ser a melhor personagem (e actor) em cena, com escassos momentos na tela que valem mais que mil horas. Continuamos com uma excelente realização, mas perdeu-se um pouco do mistério cinematográfico, sinceramente espero que não haja uma área de conforto nas cenas de sensualidade e mulheres bonitas, onde se possam perder os diálogos inteligentes, não me parece que isso vá acontecer, no entanto, a cautela é a melhor amiga do espectador. Ainda não desabrocharam os momentos de acção, mas não prometem ser os melhores, a vingança promete ser mais argumentativa e inteligente, o que parece ser bem mais emocionante.
Pareceu-me um inicio ainda pouco aquecido e algo tímido, contudo promete amadurecer, com actores que mantêm a expectativa elevada.
Sem muito mais a dizer para além dos óbvios elogios, Game of Thrones continua ao rubro e promete continuar em alta, estaremos cá para comentar o final...

sábado, março 30

Comboio Nocturno para Lisboa

Um homem enfadonho, assombrado pela monotonia, resolve viajar no tempo...

Um filme tipicamente pós 25 de Abril chega aos cinema mais de meio século depois, com uma voz amargurada de revolta. 
Quem diria que Jeremy Irons iria ser o homem que caminharia pela calçada Lisboeta numa tentativa incessante de procurar história nacional (e patriota), como forma de encontrar rumo para a sua bússola existencial. O actor procura rumo para a sua interpretação e em muitas ocasiões encontra-a, mas perde-a com muita facilidade. A história tem um potencial abismal que se perde numa realização fraca, num argumento confuso, numa banda-sonora enfadonha, e com algumas interpretações demasiado teatrais.
Surpreendentemente os Portugueses foram gloriosamente dos melhores actores em cena, com Marco D'Almeida e Adriano Luz que são donos dos melhores momentos na tela. Louva-se Jeremy Irons, Charlotte Rampling e Lena Olin, no que respeita a Jack Huston, depois de o ver em Boardwalk Empire é difícil revê-lo numa performance inferior, no entanto não esteve muito mal. Lisboa está perfeita como sempre, com uma fotografia que não lhe faz jus.
Um filme patriota, mas mal conseguido, mais um potencial drasticamente arruinado.