Antes de começar a falar da magnificência da realização e da supremacia do argumento tenho de salientar a estupenda interpretação de Mads Mikkelsen, o olhar deste actor consegue hipnotizar-nos, confundir-nos e expor-nos de uma forma que nos deixa nervosos e desconfortáveis. O convencional olhar sarcástico e trocista dá lugar a um olhar penetrante e sedutor, que nos poderá corroer o espírito a qualquer instante. Este Hannibal Lecter consegue apaixonarmos e amedrontar-nos de forma anímica, é fascinante e perturbador.
Hugh Dancy é um actor que até aqui não havia surpreendido o público, até interpretar Will Graham e aí, revelar o seu verdadeiro potencial enquanto actor.
No argumento temos dois homens de renome Thomas Harris, uma presença óbvia e madura em adaptações ligadas a Hannibal, já que foi argumentista de todos os filmes, e Bryan Fuller (também criador), uma surpresa nos bastidores, não pelo seu talento, mas pelo seu estilo de escrita e adaptações. Ambos parecem ser uma combinação improvável mas que funciona de forma engenhosa, por um lado temos o diálogo musical próprio de Fuller e por outro a frieza e escassez de emoção de Harris, como fruto nasce uma brutal sensação de insegurança e medo que cria instabilidade em qualquer mente sã.
Na realização destaca-se Michael Rymer e David Slade que apesar de alguns momentos mais obscuro desenvolvem trabalhos majestosos em títulos como Hard Candy, Breaking Bad, American Horror Story, Queen of the Damned, Galactica e Flashfoward. Guillermo Navarro é para mim o elo mais fraco da equipa de realização, sem dúvida o mais aclamado e conceituado, mas o que me deixa maior margem para dúvidas, tem uma filmografia muito sensacionalista, não tendo experiência no campo da realização, no entanto é sem dúvida um gigantesco ponto forte na fotografia, que é já bastante evidente na série Hannibal.
Lecter atormentou-nos durante anos no cinema, fascinou-nos e troçou da nossa instabilidade, hoje no ano seguinte ao fim do mundo, Hannibal regressa em televisão e promete continuar a ser uma presença constante nos nossos piores pesadelos e quem sabe na nossa ementa...
Bon Appetit!