quinta-feira, agosto 8

O Maravilhoso Mundo do Absurdo - Parte 6

Stratius levou Éter até uma taberna bastante marginalizada e com o papel de parede arranhado, toalhas de mesa manchadas de negro e nódoas cinzentas no tecto, relutante e amedrontada a princesa seguiu a serpente até ao balcão de pedra negra:
- Onde está ele? - Perguntou ao homem barbudo do outro lado do balcão. Ele acenou para o lado esquerdo sem proferir uma única silaba. Quando Éter rodou a cabeça viu uma sombra num dos cantos, sentada num banco encostada à parede, Stratius rastejou até lá e disse:
- Amo acho que encontrei uma foragida...
- Eu não sou nenhuma foragida! - Alertou Éter.
O homem saiu do escuro que o cobria e a princesa conseguiu ver-lhe o rosto, tinha uma cicatriz do lado direito em meia lua desde a testa até ao queixo, os olhos eram de um vermelho rubi, a cara larga e morena, com um nariz pontiagudo e largo davam-lhe um ar pesado e mafioso, as suas mãos largas dirigiram-se ao colar da princesa e num tom rouco e asqueroso disse:
- Vejo que vens de Dominus... Como te chamas?
- Éter.
- Éter? - O homem parecia conhecer o nome, a surpresa foi instantânea. - A princesa de Dominus?
- Sim. Eu própria. - Disse a rapariga de forma prepotente.
- Não te recordas de mim? - A confusão apoderou-se da jovem.
- Não... Devia? - O homem entristeceu e respondeu:
- Sou Dulius. Filho do ex-marido da tua mãe, sou o bastardo que nasceu fora do casamento a razão porque eles se separaram e obrigou a rainha a criar Dominus, ela separou Merinder em três mundos, em vez de dois mas, não havia espaço para mais um então o teu mundo tornou-se absurdo e indeciso, a verdade é que o teu pai é o verdadeiro rei de Luminatus e a tua mãe rainha de Darnatus. O irmão de Casquilos, Lordus, apoderou-se do seu reino, o teu pai não se importou pois tinha a tua mãe e mais tarde nasceste tu. Visitei-te uma vez com Insanis, foi no dia em que recebi esta cicatriz. - Éter estava pasmada com aquilo que acabara de ouvir, o homem era afinal um rapaz a que o tempo não tinha dado juventude, continuou a ouvi-lo sem desfazer a surpresa no seu rosto. - O teu pai não aprovava a minha presença em Dominus, e levou-me de volta. Morreu ao fazê-lo. - Éter enfurecida disse:
- Então foi por tua causa que ele morreu. - Dulius baixou os olhos em sinal de culpa e disse:
- O teu pai morreu em Luminatus às mãos da feiticeira Matiquis, foi a partir desse momento que ela conseguiu ligação com o teu mundo, já com o meu ela não tem qualquer ligação, visto que não matou nenhum membro real. O teu pai morreu para me fazer regressar ao meu mundo. É por isso que vais receber o teu poder, tudo o que te contaram de receberes os poderes da tua avó o alinhamento dos planetas, isso é tudo mentira, a verdade é que receberás o teu poder porque ele pertencia ao teu pai, ele guardou-o antes de regressar comigo a Darnatus, parece que pressentiu que algo iria acontecer... - Éter começou a chorar, não queria mais ouvir o que o rapaz tinha a dizer. - Chegámos a brincar juntos. Além disso o teu pai regressou a Luminatus para que não me magoassem se eu por qualquer razão lá voltasse, a verdade é que isso lhe custou a vida. - Disse o rapaz na esperança de que Éter o pudesse perdoar. Em vez disso a rapariga rodou a ampulheta mais vezes do que aquelas que deveria, no total foram seis, foi então que o inesperado aconteceu. 

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quarta-feira, agosto 7

O Maravilhoso Mundo do Absurdo - Parte 5

Darnatus prometia ser ainda mais sombrio e perigoso que Luminatus mas, isso não iria impedir Éter de explorar o território. Levantou-se do chão com o seu vestido branco manchado de negro, um dos sapatos com o brilho perdido, o seu cabelo irisado com nós, que mais tarde iram ser penosos de remover. Começou a caminhar em direcção a algo que não sabia o que era, após ter caminhado uns longos metros tropeçou, algo áspero começou a entrelaçar-se nas suas pernas:
- Quem és tu? - A voz era rouca e carregada nos S's.
- Éter!
- Mas que raio de nome é Éter? - Quando olhou para os seus pés viu uma serpente gorda de olhos rasgados, cor de mel, pele azul celeste e escamosa. Éter começou a ficar assustada e perguntou:
- Por favor não me faças mal!
A cobra sorriu expondo as suas presas, desentrelaçou-se das pernas despidas e trepando o vestido, aproximando-se do rosto da jovem disse:
- Quem és tu? Sem mentiras desta vez. - A ameaça fazia-se notar no tom de voz.
- O meu nome é Éter e não pertenço a esta terra... - Os olhos da rapariga estavam aterrorizados e a respiração começava a ser ofegante.
- Estás a dizer a verdade... - A serpente expressou intriga e começou a escorregar em direcção ao chão, quando terminou ergueu a cabeça e disse: - O meu amo vai gostar de te conhecer, apesar do nome esquisito não és nada de se deitar fora... - Revelou um sorriso matreiro.
- Quem é o teu amo?
- Vejo que não és mesmo destas bandas se não saberias quem eu sou e quem é o meu amo... O meu nome é Stratius e aconselho-te a seguir-me se não queres provar o veneno das minhas presas... - Éter seguiu a serpente sem questionar.
Em Luminatus o príncipe informava o pai da fuga da princesa de Dominus, Lordus ficava enfurecido a cada palavra de Lítius e de repente Matiquis apareceu e disse:
- Tens de encontrá-la precisamos do seu poder.
O príncipe expressou surpresa e disse:
- Mas, ela ainda não tem poder nenhum.
Matiquis aproximou-se do rosto do rapaz e proferiu uma palavra:
- Encontra-a!
- Como? - Respondeu o jovem assustado.
A mulher arqueou as costas e retirou de uma das suas mangas uma bolsa púrpura com fios dourados dizendo:
- Esta areia permite-te viajar para Darnatus e regressar.
- Darnatus? - Os olhos do rapaz ficaram assustados e receosos, duplicaram o seu tamanho em milésimos de segundo, não era o sítio que ele esperava visitar. O rei também demonstrou preocupação no seu rosto e perguntou:
- Como sabes que ela lá está? Afinal não temos ligação com aquele mundo!
Matiquis sentiu-se ofendida com a questão e, respondeu com desdém:
- Porque ela não está em mais lado nenhum...

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segunda-feira, agosto 5

O Maravilhoso Mundo do Absurdo - Parte 4

Éter sentou-se à mesa observando o corrupio de pessoas a prepararem a mesa de forma frenética mas, delicada. De repente o rei entrou sozinho no salão, parecia estar de braço de dado com alguém contudo, na verdade não existia ninguém a seu lado, o que fazia com toda aquela situação fosse perturbadora. Lítius aproximou-se de Éter e sussurrou-lhe ao ouvido:
- O meu pai ainda age como se a minha mãe fosse viva...
Éter ficou confusa, apesar de tudo não demonstrou nem por um segundo aquilo que sentia. O rei sentou-se alegremente na cabeceira da mesa trocando olhares provocantes com a outra ponta, mais uma vez vazia. Quando repararam tinham à sua disposição todo o tipo de iguarias, desde bolos a frutas. Éter perguntou com surpresa e relutância:
- Aqui comem plantas e os seus filhos, os frutos
- Sim, aqui não é como em Dominus, as plantas não falam. - Respondeu o príncipe.
- Mas têm vida e sentem? - Perguntou Éter mais uma vez relutante à ideia. - Como sabem que em  Dominus as plantas e frutos falam?
O rei Lordus trocou-o olhares de preocupação com o lugar vazio à sua frente e respondeu quase ofendido:
- Eu sei tudo o que se passa neste e no outro mundo. E é claro que as plantas aqui não sentem!
Éter sorriu cinicamente e não ficou contente com a resposta, afinal ele sabia tudo sobre Luminatus e Dominus mas, e Darnatus? Não queria fazer mais perguntas com medo da reacção do rei e do príncipe afinal estavam a ser tão amáveis e conscienciosos. Antes de começar a comer aquilo que considerava ser um crime horrendo, pediu para antes de mais visitar o jardim que conseguia ver pela varanda do salão, quando se levantou com o príncipe e o rei e reparou que os arbustos e árvore formavam um complexo labirinto, começou a temer aquela visita.
- Vamos entrar? - Perguntou o príncipe eufórico.
- Sim... - Respondeu Éter reticente.
Ambos caminharam para o exterior e o rei ficou no conforto da varanda, no topo da escadaria, ao seu lado estava a  invisível feiticeira Matiquis, assumindo a forma da sua falecida esposa.
- Só temos que esperar que ela se apaixone por ele, e depois tudo o que é dela será nosso. - Disse a feiticeira num tom de escárnio.
- Não achas que Caeruleõ vai ser um problema? - Perguntou Lordus preocupado.
- Ela não sabe onde está a filha, e quando souber vai ser tarde demais. - Disse a feiticeira que sabia tudo o que se passava nos dois mundos.
Quando a princesa entrou no labirinto o medo começou a apoderar-se dela especialmente quando os guardas selaram a entrada do labirinto e os arbustos pareciam gritar de aflição, de repente olhou para o chão e reparou numa flor branca a chorar. Baixou-se pelo que a flor lhe disse:
- Princesa Éter fuja enquanto tem tempo. Este mundo parece são e seguro mas, não passa de uma aparência. Se ficar irá arrepender-se.
- Como sabes o meu nome?
- Todos aqui sabem quem é! E querem roubar-lhe todo o seu poder!
- Mas eu ainda não tenho poder! Além disso o príncipe é um deleite de homem. - Disse Éter corando.
- É isso que querem que pense, que case com ele e unidos os dois mundos, poderão destruir Dominus!
- E como sabes tudo isso?
A flor olhou para cima aterrorizada e murchou. Quando Éter se virou para trás viu o príncipe Lítius.
- Vamos sair daqui juntos princesa? Basta assobiar para a águia nos levar...
Algo no seu olhar tinha mudado, a aflição da flor era legitima e os pratos de frutos também. Éter levantou-se repentinamente e começou a correr, até que um dos arbustos a puxou e disse:
- Rode a ampulheta e volte para casa!
Antes de mais havia um sitio a visitar antes de ir para casa. Rodou três vezes a ampulheta e quando o último grão de areia caiu ela estava num mundo negro, sombrio e obscuro, Darnatus.

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domingo, agosto 4

O Maravilhoso Mundo do Absurdo - Parte 3

A princesa e o príncipe entraram no castelo luminoso e resplandecente, no fundo do salão principal estava um trono prateado com ornamentos dourados, os terminais tinham pedras preciosas e sentado estava o rei, ao seu lado estava um trono vazio e igualmente enfeitado.
- Entrem! - Disse o rei com alguma histeria e boa disposição.
Os guardas permitiram a entrada para a zona íntima do salão depois de ouvirem o seu todo poderoso. Éter estava cega de tanta luminosidade e brancura, olhou para trás e viu os seus passos marcados no chão cal, também reparou numa mulher que seguia quem entrasse no palácio, a sua função era limpar o chão que os convidados pisavam de forma a evitar as marcas negras no glorioso chão. A mulher tinha um aspecto deteriorado e cansado, os olhos encovados, o queixo saliente e pontiagudo e o nariz redondo e largo, eram traços que lhe pesavam tal como o trabalho que exercia. Éter voltou a olhar para a frente e o sorridente rei cumprimentou-a amavelmente:
- Bem-vinda princesa!
A surpresa nascia no rosto pálido da jovem:
- Sua alteza... Perdoe-me mas, como sabe quem eu sou?
O rei Lordus riu-se compulsivamente e o príncipe respondeu:
- Como eu disse o meu pai sabe tudo!
Éter passou imediatamente de assustada para fascinada. Entretanto Lordus disse para um dos seus servos:
- Tragam uns sapatos e roupas para a princesa e preparem o lanche!
- Lanche? Mas eu...
- Insisto para que fique princesa!
Os sapatos chegaram num ápice, era brancos com um gigantesco brilhante no topo, o vestido era também ele branco, redondo, com rendas no terminal, assim como nas mangas, para além disso os acessórios para o cabelo eram pintados de preciosismo, era como se já estivessem à sua espera há algum tempo. 
Entretanto Éter foi levada até ao quarto onde se vestiu, do outro lado da porta esperava-a Lítius. Quando terminou de se arranjar, com a ajuda de uma costureira e cabeleira, o príncipe e Éter caminharam por entre os corredores e escadarias até ao salão destinado para as refeições.
O rei ficara para trás assim como os guardas e a serva que limpava o chão, Lordus disse:
- Guardas! Deixem-nos!
Os homens corpulentos abandonaram o salão e o rei ficou com a mulher:
- Ela chegou finalmente!
Após Lordus proferir estas palavras a mulher desdobrou-se em duas, uma permaneceu a limpar o chão, a outra era pequena, de olhos roxos e cabelo louro, os dedos preenchidos com anéis de rubi e um vestido branco extraordinariamente comprido.
- Que penseis fazer agora alteza? - Disse a mulher num tom provocador.
- Diz-me tu Matiquis! Afinal és quem mais pratica magia...
Sorriram um para o outro, deram o braço e caminharam para o outro salão.

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sexta-feira, agosto 2

O Maravilhoso Mundo do Absurdo - Parte 2

Éter olhou para a ampulheta com toda a cautela e cuidado, como se o olhar pudesse quebrar o objecto, era de bronze, a areia era dourada, era do tamanho do seu dedo indicador e tinha um cordão também ele de bronze, não conseguia ver onde os seus pés pousavam mas, sentia a irregularidade térrea do pavimento. Aquela seria a ampulheta que permitira o Louco viajar pelos três mundos? Só poderia ser. Afinal tinha pedido uma saída e o seu amigo concedera o seu pedido. Impaciente deu dois passos em frente até conseguir alcançar a ampulheta, o tecto tremia e a luz era trémula e escassa, com alguma hesitação pegou no objecto e abraçou-o contra o peito, o inicio do seu sonho tinha agora começado:
- Ele disse duas voltas para Luminatus e três para Darnatus!
A princesa deu duas voltas à ampulheta, quando o último grão e areia caiu favorecendo a gravidade, olhou em seu redor e já não estava escuro, a luz era pura, branca e angelical. Ainda embriagada com a sensação de liberdade e concretização de um sonho colocou o cordão ao pescoço e começou a caminhar entre a vegetação verde e branca, evitara tocar em todas as aquelas formas divinas e permanecia pasmada com tudo aquilo que via, até que num ápice alguém a agarrara e lhe tapara a boca com uma mão branca, complexa, estranhamente reconfortante e quente. Uma voz masculina sussurrou-lhe ao ouvido:
- Quem és tu e o que fazes no meu reino?
Éter esbracejou para que ele a liberta-se e atingido o seu objectivo voltou-se e viu um rapaz ruivo de olhos igualmente alaranjados e uma tez tão branca como a sua. Não conseguia deixar de olhar para ele, parecia tão perfeito e complexo, tão medonho e ao mesmo tempo tão encantador, a sua expressão era de surpresa e admiração, nos seus olhos o interesse estava a nascer:
- Venho do reino de Dominus!
O rapaz riu-se desenfreadamente:
- Dominus? Esse povo ignora a nossa existência!
A rapariga estava agora surpresa:
- Como tens conhecimento disso?
- Porque sou o príncipe Lítius, e os meus pais têm conhecimento de tudo o que se passa nesse e neste reino, têm espiões por todo o lado. Agora diz-me a verdade, quem és e de onde vens.
A rapariga começava a ficar irritada com a arrogância do rapaz:
- Sou Éter! Princesa de Dominus e futura rainha!
O rapaz fitou-a com atenção pôs-lhe a mão na testa e disse:
- Alteza! Perdoou-me a ousadia, deixe-me leva-la até ao nosso palácio e recompensá-la devidamente.
Éter esticou a mão e caminhou com o príncipe até à sua carruagem. Largos quilómetros depois Lítius disse-lhe agarrando a sua mão:
- Aquele é o meu palácio!
Éter olhou para pela janela e viu uma imponente construção em mármore branco, com pilares ornamentados e abóbadas meticulosamente esculpidas, era um sonho tornado realidade.

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quinta-feira, agosto 1

O Maravilhoso Mundo do Absurdo - Parte 1

Era uma vez uma ampulheta, uma ampulheta que estava no cume de uma montanha nas masmorras de um castelo mas, não era um castelo qualquer, era o palácio do reino de Dominus, um reino onde o impossível era provável e o provável impossível. A rainha era chama por Caeruleõ, pela sua obsessão pela cor azul, era uma mulher esbelta, elegante, alta e de uma brancura doentia, os seus olhos eram cor de cereja, tão vivos e aos mesmo tempo desprovidos de alegria. A rainha sofria de dupla personalidade, tanto podia ser generosa como deplorável instantes mais tarde. O seu povo oscilava entre cães e gatos falantes, passando por flores estupidamente tagarelas e até mesmo arbustos amargamente mal humorados. Também tinha humanos entre os seus plebeus contudo, a rainha tentava manter esta espécie bem distante, pois muitos deles ambicionavam o seu lugar, não eram poucos estes ladrões de coroas, e muitos desejavam pedir a mão da sua bela filha Éter. A princesa acabava de completar o seu décimo oitavo aniversário, dezoito anos que não se notavam, a rapariga parecia ter apenas catorze ou quinze anos, herdara da mãe a altura e a brancura, os seus cabelos negros contrastavam com os seus olhos amarelos, que herdara da avó, a personalidade pertencia ao pai. A rapariga não queria ser rainha mas, a hora aproximava-se, cinco horas era tudo o que restava do seu tempo de princesa, tornar-se-ia brevemente na mulher mais poderosa de Dominus, herdaria os poder material da mãe e os poderes mágicos do quinto elemento, o éter. Herdaria este poder devido ao alinhamento de dois planetas que assombravam o seu reino Sistirus e Nevidis, na cerimónia de sucessão ao trono iriam emergir os poderes que todas as gerações anteriores ambicionavam.
Éter era a escolhida, a prometida mas, não era isso que ela queria, a princesa queria sair de Dominus, queria fugir para longe do reino, talvez para Darnatus, a terra das sombras, ou para Luminatus, a terra da luz. Dominus não era o seu lugar, Dominus não tinha um principio, não pertencia à luz ou à escuridão, e isso perturbava-a. Éter queria ter o poder de escolha, algo que não conseguia fazer no local onde vivia, todos ali pareciam indecisos ninguém era bom nem mau, todos estavam no intermédio das decisões. O médico real chegou a consultar Éter diversas vezes devido à sua insistência na questão e chegara a pensar que a princesa havia enlouquecido, ideia que foi imediatamente alterada pela sua indecisão.
Éter tinha um amigo, um homem especial e diferente, não era indeciso, o seu nome era Insanis, que significava o Louco, o povo chamava-o assim porque ele acreditava na existência de um mundo comum, Merinder, ao qual pertenciam os reinos de DominusDarnatus e Luminatus, que a população dizia não existirem, mas o Louco viajara por lá com a ampulheta amaldiçoada, aquela que a rainha lhe retirou. O Louco só conseguia dizer a verdade e por isso estava destinado a ser prisioneiro para todos o sempre, pois só seria libertado se negasse a existência de tais reinos. Éter visitava-o todos os dias e falara com ele sobre os três mundos. Horas antes da sua coroação Éter voltou a visitar Insanis e chegando junto da sua cela disse:
- Como posso eu escapar disto?
O Louco olhou-a com os seus olhos cansados cor de caramelo, e disse:
- Para chegar à porta tem de caminhar nos degraus. Coloque este anel e pronuncie três vezes, Nunc.
- Nunc?
- Sim...
- Porquê três vezes?
- Três mundos três vezes! E lembre-se princesa, uma volta para Dominus, duas para Luminatus e três para Darnatus!
A princesa olhou-o confusa:
- Voltas aonde?
O Louco sorriu e olho-a com ternura:
- Saberá no devido momento...
Éter pôs o anel e disse com convicção:
- Nunc! Nunc! Nunc!
Tudo à sua volta começou a girar a uma velocidade astronómica, fechou os olhos e protegeu a cara com os braços, quando finalmente parou de girar, olhou em seu redor e estava numa sala escura, húmida e minúscula, a única coisa de se via era uma ampulheta iluminada por um milimétrico buraco na parede.

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sexta-feira, julho 5

Monstros e Companhia - Universidade (Monsters University)


As origens de Sulley e Mike Wazowski.

Monstros e Companhia fez furor em 2001 com o primeiro filme, numa localidade monstruosa em que a verdadeira ameaça é o mundo dos humanos. Agora treze anos depois voltamos às origens da equipa maravilha e percebemos como tudo começou.
O filme é divertido e espelha temas como a valorização pessoal, a amizade, ou a agressividade da sociedade escolar. Consegue ainda assustar os mais pequenos e fazê-los rir segundos depois, é aconselhável a fanáticos dos desenhos animados e para os mais pequeninos. Um forte destaque para a qualidade da animação que está excelente, fazendo-nos mesmo acreditar que todas as paisagens que vimos são reais.
A curta metragem apresentada antes do filme intitulada The Blue Umbrella é deliciosamente divina, vale pena vê-la. Para já apresento um clip...

terça-feira, julho 2

Star Trek - Into The Darkness

"Live long and prosper." - Spock

Star Trek é a melhor série de ficção cientifica alguma vez criada na televisão internacional, dificilmente será atingida a magnificência que durante anos marcou a diferença na science fiction tal como a conhecemos hoje.  Já dezenas de filmes e séries foram realizadas depois de Star Trek - The Original Series, muitos capitães ocuparem a cadeira de Jim Kirk, e em 2009 surgiu a prequel que surpreendeu até os mais cépticos, com um elenco que foi fiel às personagens originais com performances consideradas excepcionais, efeitos especiais que conseguiram superar as especulações e um argumento forte e coeso. Neste Into The Darkness não somos surpreendidos, nem as nossas expectativas são superadas, o que não é difícil visto tratar-se de uma sequela do primeiro. A ideia para o argumento ser a origem de Khan e o seu primeiro encontro com a tripulação da Enterprise é fascinante mas, falta-lhe coesão e fluidez. Por outro lado, as interpretações são novamente arrebatadoras, com um honroso destaque para Zachary Quinto, que é um Spock impecável, seguido de Chris Pine, Benedict Cumberbatch e Zoe Saldana. Existe uma química gigantesca entre todos os actores, e o filme deve a maior parte do seu sucesso às magnificas performances. A brevidade da aparição de Leonard Nimoy não afecta em nada a sua supremacia em cena, um momento curto mas, poderoso. O restante crédito do filme vai sobretudo para os efeitos especiais e a banda-sonora, ficando o argumento para último lugar, com uma previsibilidade no diálogo e no próprio enredo.
Star Trek é uma lenda no mundo da ficção cientifica sendo sempre muito complicado alcançar as expectativas dos fãs, que são sempre muito exigentes e criteriosos. J.J. Abrams faz uma realização interessante mas muito próxima da sua área de conforto, o que torna tudo um pouco previsível.
Em suma, o filme é interessante para quem nunca viu as séries e filmes anteriores, fantástico para quem gosta de J.J. Abrams, e visível para os fãs de Star Trek. Como admiradora incondicional da série é um filme interessante mas, esquecível, como apreciadora de J.J. Abrams é notável.

"Fascinating is a word I use for the unexpected, in this case I would think interesting would suffice" - Spock TOS



segunda-feira, julho 1

Dexter Season 8 Premiere Review

A descoberta da verdadeira essência é a contagem decrescente para a resolução de tudo...

Dexter Morgan é confrontado com Evelyn Vogel, a mulher que o desenhou e agora regressa para observar (ou talvez usar) a sua criação. Enquanto uns perseguem o nosso Serial Killer outros fogem e escondem-se dele, falamos obviamente de Debra Morgan que se vê confrontada com um lado mais negro de si própria, não conseguindo sobreviver com esta realidade. A personagem tem vindo a crescer ao longo da série tornando-se a chave vital da moralidade e do "bom comportamento", no entanto, tudo foi arruinado em segundos quando Deb decide salvar o irmão e terminar com a vida de LaGuerta, é dessa decisão que a personagem não consegue definir onde a sua capacidade ética e moral funcionou, criando uma série de complexas emoções que ela não consegue decifrar e superar. Contudo, o verdadeiro problema reside em Dexter, o afastamento da irmã criou uma cadeia de comportamentos violentos que poderão vir a tornar-se perigosos e eventualmente desmascarar a personagem, é a asfixia permanente e lenta de perder o controle. De um lado temos um desgosto emocional que leva a ruína e à demência, por outro temos um perigo eminente, descontrolado, que poderá levar à cadeira eléctrica.
Tudo aquilo que vimos ao longo de sete temporadas começou nesta última, a criação do código, o equilíbrio emocional, a admiração doentia, a obsessão pela perfeição e a criação de laços. Tudo começa e acaba num ciclo de frustração.
Começou de forma brilhante, como sempre, e promete ser fabuloso. 
Permanecem as questões: Onde está Hanna McKay? Será que Quinn e/ou Batista vão descobrir? Será que o Harrison vai ser o próximo Serial Killer? Irá Deb denunciar o irmão? To night is the night of what Dexter?

The Quartet

Como a música pode rejuvenescer...

Mais um filme que apresenta um elenco de luxo e que nos ensina como envelhecer com dignidade e sem frustração. Simples, monótono, complexo e próximo do fantástico, com momentos hilariantes e outros mais aborrecidos, o Quarteto narra a história de músicos reformados que se vêem confrontados com o seu envelhecimento e todos os problemas que surgem com isso. As recordações de glória passada, de momentos mais ou menos felizes, de amizades perdidas e reencontradas, de amores que se julgava não valerem nada e que no fim são tudo o que se tem. É uma história sobre o arrependimento e a mágoa de ter sido jovem e arrogante e querer ser velho e feliz. Um filme complicado para os mais jovens mas, perfeito para uma idade mais experiente e madura.
Há que salientar que Maggie Smith está absolutamente divina e perfeita neste filme, como sempre.

Por vezes é na simplicidade que está o verdadeiro sentido da vida.