Petra era estudante de medicina, Vitória era
estudante de arquitectura. Elas eram inseparáveis, completamente dependentes
uma da outra. Salvador era vizinho de Petra, namorado de Vitória, estudante de
medicina.
Petra era uma jovem divertida, sociável e
irreverente, Vitória era sossegada, reservada e conformista. Os três viviam em
perfeita comunhão, não havia nada nem ninguém que os conseguisse separar, até
ao dia em que Petra adoeceu, e Salvador não conseguiu resistir.
Petra sofria de insuficiência renal crónica desde os
20 anos, não tinhas grandes prespectivas de encontrar um dador, e sonhava
viajar, mesmo que soubesse que não iria conseguir. Num tímido dia de Outono os três
conversavam no alpendre da casa de Vitória, Salvador falava do seu último
heroico acto, da forma como salvou um doente com uma transfusão do seu próprio
sangue, AB-. – Olha esse é o meu tipo de sangue! – Reagiu Petra entusiasmada. –
A sério? – Salvador ficou surpreendido, como é que era possível conhecerem-se
há tanto tempo e não saberem o tipo de sangue uns dos outros? Salvador teve um
laivo de loucura e ponderou no interior do seu ser: Será que somos compatíveis?
A tarde fluiu, a noite passou e o dia seguinte foi de investigação clínica.
Salvador estagiava no mesmo local onde Petra fazia os tratamentos, conseguiu o
sangue dela com facilidade e fez os testes que precisava, descobriu que ele
seria o dador perfeito.
Petra e Vitória rejeitaram a ideia de Salvador, mas a
insistência do jovem convenceu-as. O dia da cirurgia chegou, a anestesia fez
efeito sobre Salvador, não se lembrava da cirurgia, lembrava-se de Petra,
queria saber como ela estava, queria vê-la, Vitória começou a sentir ciúmes,
Petra não sentia nada para além das dores da cirurgia, o destino começou a
tecer as suas malhas.