Salvador acordou numa escuridão arrepiante,
amordaçado e amarrado a uma mesa de cozinha, não conseguia sentir os seus
pulsos, a respiração tornava-se incomodativa, o medo transpirava por todos os
poros do seu corpo. Sentiu os passos de alguém, possivelmente uma mulher, de
saltos afiados e cortantes. Estremeceu, tentou soltar-se, moveu os olhos na
direcção do som, não conseguia ver nada, mesmo assim não tentou falar. Uma luz
incandescente e dolorosa acendeu-se, não conseguia ver com nitidez o rosto
daquela pessoa, mas conseguia perceber que estava coberta por uma máscara.
Sentiu uma mão no seu braço, focou a sua atenção nas unhas do seu agressor, uma
manicura francesa, requintada, uns dedos finos, compridos e queimados pelo sol
do tórrido verão. Essa mesma mão suave destapou-lhe a boca. Salvador não
gritou, o medo era efervescente, começou a tremer, a sua voz trémula perguntou
à assustadora figura: - Isto é alguma brincadeira? – Não obteve resposta,
voltou a ouvir os saltos ecoar e a luz ficou mais intensa. Durante alguns
segundos ponderou o que poderia ser tudo aquilo e equacionou gritar, esperou 30
segundos contados pelo reaparecimento da figura, sem conseguir perceber o que
se passava gritou por socorro e ao mesmo tempo sentiu uma dor cortante no pé, a
sua voz tornou-se mais aguda e as lágrimas começaram a florescer. A luz
apagou-se, o terror aumentou, uma vela acendeu-se e os passos regressaram.
Salvador gritou ainda com mais força, as suas cordas vocais vibravam ao ritmo
alucinante do pânico e a mesma mão que o tinha soltado começou a sufoca-lo.
Finalmente, ouviu a voz aguda, suave e calma do seu agressor: - Não é uma
brincadeira Salvador. Chame-lhe antes absolvição. – Reconhecia a voz débil e
perturbada, reconhecia o toque, e reconhecia a loucura.
[Quem será a mulher? Será real? Apostem e vejam se conseguem
encontrar a resposta. Fico à espera. Obrigada.]