terça-feira, dezembro 3

Dupla Identidade - Parte 5: Enclausurados

Marcos já estava desamarrado e sentado no chão, encostado a uma parede petrificado e novamente enfeitiçado por Eva. Tudo o que tinham construído juntos, estava ser desmoronado, não podia partilhar com ela aquilo que tinham feito, o medo de ser rejeitado pelo passado estava a apoderar-se dele, estremecia só de pensar que Eva poderia vir a odiá-lo. Tinha feito tudo por ela, mas ela já não era quem ele conhecia, mas continuava a amá-la como se nunca nenhum acidente tivesse acontecido. As paredes claustrofóbicas faziam Marcos querer dizer a verdade, queria dizer a Eva tudo aquilo que partilharam, tanto o bom como o mau. – Eva tu e eu somos casados. Eu estava noivo antes de te conhecer, mas apaixonei-me loucamente por ti, e a minha noiva a Bárbara estava grávida, e nós… - Uma pausa apoderou-se dele. – Nós o quê? – Perguntou Eva em histeria. – Nós provocamos-lhe um aborto. – Eva ficou aterrorizada com o que Marcos lhe revelou, a garganta secou e não a deixou proferir um único som. – O que fizemos foi terrível, mas a Bárbara vai ficar com os diamantes rosa e com as provas para nos incriminar, é tudo o que ela quer, e nós, só temos de fugir. – Eva continuava calada, não porque não soubesse o que dizer mas porque se tinha lembrado da mãe e da irmã, as únicas pessoas no mundo com quem não falava há anos tinham aberto uma fresta na sua memória. – Lembrei-me! – Disse Eva entusiasmada. – Lembrei-me deles! Da minha mãe e da minha irmã, e do funeral da minha avó! Lembro-me! – Eva sorria desenfreadamente, não sabia porque razão se tinha lembrado, mas o facto era que os pedaços de vida estavam a regressar, brevemente iria lembrar-se de tudo. No auge do seu êxtase beijou o homem que outrora fora seu marido, fazendo com que a esperança de Marcos cresce-se exponencialmente, afinal havia esperança de ela se lembrar e continuar a amá-lo.
Bárbara pegou no telemóvel e ligou para Gustavo, o seu amigo policia, aquele que a tinha ajudado quando ela perdera o bebé, o mesmo que a aquecia nas noites mais frias, e que auxiliava em momentos de angústia. O telefone chamava e do outro lado não se obtinha resposta, após três tentativas Gustavo atendeu o telefone ofegante. – Estou! – Gustavo? Está tudo bem? – Sentiu-se embaraço do outro lado, e a voz cansada respondeu: - Sim, está! Precisas de alguma coisa? – É só para te dizer que já sei onde estão os diamantes, e as provas. Vem ter comigo à porta do prédio deles. – Agora estou a trabalhar, vou ter contigo depois, no local do costume. – Está bem. Tens a certeza que não se passa nada. – Não… Trabalho, só isso. Até logo. – Até logo. – Após desligarem os telefones, ela ficou radiante e sorridente por estar a saborear a sua vitória, ele, por outro lado, estava enclausurado.

Gustavo estava sentado em cima da cama com uma arma apontada à cabeça, três homens agarravam-no por trás, ele só implorava para que parassem. – Porque estão a fazer isto? Quem são vocês? – O telemóvel do homem que lhe apontava a arma tocou, e o homem foi para a casa de banho, fechou a porta, esteve uns minutos no seu interior. Quando saiu acenou aos outros dois, que largaram Gustavo, mas antes disso, um deles colocou-lhe um pano na boca e ele desmaiou. Já não havia muito mais a fazer, a vingança estava preparada.