segunda-feira, março 28

Vikings Season 1, 2 and 3



Poder não é ter. Poder é saber e, para saber, é preciso crer...

Michael Hirst criou séries como Camelot e Tudors, foi produtor de uma das melhores séries de época que conheço The Borgias e foi argumentista de filmes como Elizabeth e Elizabeth - the Golden Age. Apesar dos erros históricos que Tudors apresenta (nomeadamente na história de Portugal) abriu portas para um género ainda pouco apreciado pelos americanos, mas que a Europa já reconhece e já aprendeu a apreciar. Camelot foi uma série assaltada pela falta de bom senso e que acabou por não ter grandes bases históricas. Seguiu-se então (para meu grande espanto) a série que na minha opinião tem bases históricas verdadeiramente fundadas e verídicas; The Borgias, com o meu pouco conhecimento a nível de história, reconheci apenas alguns erros e pequenos pormenores, que se dissolveram numa série extremamente bem fundamentada e inteligente. Elizabeth é um grande filme, também com grande astúcia histórica e cinematográfica. Por outro lado, Elizabeth: The Golden Age é pobre em factos e em argumento (apesar da brilhante interpretação de Cate Blanchett).
Assim, Vikings é projecto diferente, arrojado e com menos conteúdo histórico, mais fácil para agradar os aficionados de história e os apreciadores de bom cinema em casa.
Ao contrário dos projectos anteriores de Hirst não tenho conhecimento histórico para conseguir apontar erros factuais e do pouco de tenho lido, comentado e discutido não parecem existir grandes disparidades entre a realidade e a série. Há suposições sobre factos desconhecidos e algum "romance" na história.
O argumento é espantoso, cru, simples, directo e inteligente (muito inteligente). A narrativa da primeira temporada está perspicaz e muito bem conseguida. Esta particularidade vai sendo constante até à terceira temporada sem fracassar. Há um envolvimento intenso e especial entre as personagens, o que faz com que o espectador se envolva na história.
Para tornar tudo mais melodioso e encantador, Trevor Morris é o sublime criador da magnética banda-sonora. O compositor já deu várias provas de conseguir captar o espírito do trabalho a que se propõem e Vikings não é uma excepção.
Nas interpretações tenho a destacar Travis Fimmel e Linus Roache, estão fabulosos. O olhar de Fimmel como Ragnar e o sorriso de Roache como King Ecbert são ambos (igualmente) geniais. Gustaf Skarsgard (Floki) está irreconhecível e acompanha a loucura da sua personagem, o que é fantástico. Clive Standen (Rolo) tem a personagem mais interessante e dúbia de toda a história (até agora), o que torna o trabalho do actor mais difícil. O tempo de ecrã de Standen é pouco, tornando-se complicado revelar toda a complexidade desta personagem, todavia o actor consegue transparecer claramente a mensagem. George Blagden (Athelstan) está interessante, muito devido à sua personagem ser complexa e intrigante. Por fim destaco Kathery Winnick (Lagertha) que está fabulosa e apaixonante. Alexander Ludwig (Bjorn) ainda não tem a relevância que a personagem merece, e o actor ainda está muito verde para determinados momentos na tela (mas algo me diz que isso melhora na quarta temporada).
Ao longo da narrativa há diferenças entre temporadas, sobretudo na magnitude dos combates, no uso e abuso de efeitos especiais e na qualidade da fotografia e montagem. Apesar de pessoalmente gostar mais da primeira temporada, reconheço que o expoente máximo da série (até agora) é a terceira temporada, há um crescimento gradual da forma, mas o conteúdo têm-se mantido fiel a si próprio.

Destaco que o opening está transcendente, consegue transparecer o carisma da série e ao mesmo tempo emergir o expectador naquela crua realidade.

Vikings tem potencial para ser genial, vamos esperar que a popularidade não estrague o brilhantismo. Até agora, foi magistral.

sexta-feira, março 11

Deadpool

O super menos herói da história dos super-heróis!

Deadpool é realizado por Tim Miller, um homem experiente (e reconhecido) em diferentes áreas do cinema, mas uma (quase) estreia como realizador. A isto junta-se uma equipa de argumentistas (Rhett Reese e Paul Wernick) com uma veia de comédia negra e muito bom senso, que tornam Deadpool num filme muito bom para o universo Marvel.
Deadpool combina violência com humor negro, mistura "romance sexualizado" com vilões estereotipados e, tudo isto, parece resultar num verdadeiro desastre cinematográfico. A ironia é que todos estes elementos conseguem transformar o filme num verdadeiro ícone e uma promessa para o futuro do género Marvel (tal como Captain America por diferentes razões).
Comics é um mundo complexo, difícil de seguir, ainda mais difícil de construir e "extremamente impossível" de retratar à imagem dos leitores, curiosamente Deadpool agrada, Deadpool dá um passo à frente, estando sempre (cronologicamente) a andar para trás.
Ryan Reynolds é um actor sobrevalorizado em muitos aspectos e, em muitos dos filmes em que participa, recentemente tem revelado potencial interpretativo e, particularmente neste filme, consegue superar vivamente as expectativas do espectador.
Os restantes actores não têm interpretações geniais e/ou brilhantes, mas conseguem superar-se dentro do esperado para o género.
Em suma, Deadpool é fiel à personagem, é fiel ao género, é inovador, divertido e consegue surpreender muito pela positiva.

And I quote...

"You're probably thinking: "This is a superhero movie, but that guy in the suit just turned that other guy into a fucking kebab." Surprise, this is a different kind of superhero story." - Deadpool in Deadpool

quarta-feira, fevereiro 17

Room

O mundo é aquilo que o ser humano pensa conhecer.

Room é uma história dramática, trágica, comovente, arrebatadora, monstruosa e mágica. Tudo adjectivos que entre si culminam numa relação entre mãe, filho e o mundo diferente que ambos conhecem. No fundo é um triângulo amoroso, circunscrito num cubo de paredes espessas e realidades diferentes.
Há anos atrás tive este livro na mão, na altura não tinha dinheiro no bolso para o comprar, voltei à livraria no dia seguinte e já não o encontrei. Não voltei a encontrá-lo. Não voltei a procurar, nem voltei a ler mais do que aquilo que tinha lido naquela "breve" passagem (que no meu caso nunca é breve) pela livraria que com a crise fechou. Por este motivo, não conheço o romance de Emma Donoghue e não posso comentar as suas semelhanças com o filme.
A película tem momentos claustrofóbicos e angustiantes, arrepia, desafia os limites da imaginação e comove. Tudo isto é possível porque temos uma história muito original, com bases bem estruturadas e metáforas suaves, que se perdem num argumento com altos e baixos. Há momentos no filme que quebram o "ritmo" dramático e que não o deixam brilhar como era suposto.
Lenny Abrahamson consegue uma realização intimista, que consome o ar do espectador, mas que se vai desvanecendo com o decorrer da acção, tornando-se mais fria e inconsistente,
Brie Larson tem uma interpretação excelente, consegue momentos de tensão, de desespero e de emoção que nos comovem e nos permite sinergizar com a personagem. Contudo, perde alguma credibilidade em duas cenas chave do filme, o que limita a empatia do espectador com a actriz.
Jacob Tremblay é a mais valiosa peça deste puzzle cinematográfico. Tem uma interpretação absolutamente sublime. É espantoso o olhar da criança em momentos magnéticos do filme, chega a ser imperativo ver Room só pela revelação deste actor.
A sensação com que o espectador fica é que há algo que não está completo, falta qualquer ingrediente que não é possível transmitir por palavras. No entanto, é um filme que vale a pena ver pela história, pelas personagens, pelo o mundo que cria em seu redor dentro de quatro paredes.

quinta-feira, fevereiro 11

Knight of Cups


Um homem que se perde em si próprio, nunca se encontra sozinho.

Terrence Malick é um realizador de poucas palavras, é claramente um criador de experiências sensoriais no grande ecrã. Um homem que criou um estilo único e muito próprio, que criou a sua assinatura no cinema. Knight of Cups refugia-se nesse estilo melodioso, perde brilho numa narrativa sem grandiosidade, sem interesse e que não prende o espectador. Não existe uma razão para o filme acontecer, não há espaço para que se desenvolva. Todas as narrativas de Malick são bem fundamentadas, bem estruturadas, solidificadas, com um sublime toque de encanto. Filmes com este poder visual têm de ter argumentos igualmente poderosos, e isso não acontece com Knight of Cups.
Tal como o protagonista, a história está perdida, baseando-se apenas em retalhos e exibindo dolorosamente a sua falta de rumo e de conteúdo. Visualmente o filme é bonito, emotivo, mas é só isso.
Christian Bale tem uma interpretação razoável, nada de extraordinário, nada de estrondoso. Percebe-se que não existe um fio condutor na construção da sua personagem. Cate Blanchett consegue prender o espectador e é um ponto forte e sólido no filme. É possível perseguir um caminho com ela no ecrã e na história. O mesmo acontece com Natalie Portman que abre uma porta e permite a entrada da razão da existência de toda esta narrativa, mas devido à sua chegada tardia na película isso torna-se complicado, não sendo o suficiente.
As ideias por detrás da história de encontro pessoal como os devaneios da vida mundana, a procura de compreensão, a descoberta do amor, são tudo temas implícitos mas que não ficam claros e que não são tocados o suficiente para que a história fique completa e lógica. Falta-lhe conexão entre todos os elementos. As próprias cartas que representam a procura, que simulam a vida, não se encontram ligadas. A narrativa vive muito de especulação e não parece estar trabalhada para ser mais que isso.
Knight of Cups tem potencial para ser uma curta-metragem magnetizante, mas não tem conteúdo para ser uma longa-metragem, torna-se muito redundante.

Spotlight


A verdade escondida diante dos nossos olhos.

Todos conhecemos a história de Spotlight do ponto de vista de espectador, no prisma jornalístico este caso parece ser mais complexo do que alguma vez se imaginou. A narrativa deste filme está bem construída, humanizada, fundamentada e extremamente bem interpretada.
Spotlight tem a enorme vantagem de reunir um elenco poderoso e um argumento extremamente envolvente. Josh Singer tem experiência neste tipo de narrativas e tem surpreendido pelo seu crescimento neste sector. Não tenho grandes dúvidas que a sua experiência aliada à de Tom McCarthy terá sido o grande sucesso deste poderoso argumento. Tom McCarthy é um actor experiente, um argumentista interessante e um realizador verde. Apesar da sua inexperiência na realização McCarthy apresenta-nos um filme maduro e completo. O projecto não está arrojado nem arriscado, mas a simplicidade e a solidez torna-o íntimo e próximo do espectador. Não é uma realização espantosa nem sensacional, mas é segura.
O filme tem tudo na dose certa e isso é essencial nestes temas sensíveis que correm o risco de se tornarem muito dramáticos, muito subjectivos e/ou muito aborrecidos.
Nos actores é difícil referir alguém que tenha estado menos bem, estão todos muito acima do esperado. Todas as personagens têm uma personalidade e uma humanização muito acentuada, sem excessivos dramatismos, próprios do género, ou discursos surrealistas.Ainda assim destaco o gigantesco Mark Ruffalo que tem uma performance mais que brilhante. O actor consegue balançar muito bem os momentos de drama, as cenas de "acção" e os minutos de reflexão, é hipnotizante vê-lo no grande ecrã. Liev Schreiber tem uma personagem sem grande espaço para desenvolvimento, mas ainda assim consegue torná-la sólida, plausível e sobretudo confiável, acredito que não tenha sido tarefa fácil para o actor. Rachel McAdams não é só uma cara bonita, é uma peça essencial no desencadear da acção dando uma certa sensibilidade a toda a narrativa. Michael Keaton é (e sempre será) um homem de papéis fortes e Spotlight não é uma excepção. Por fim, sem esquecer Stanley Tucci, que dá um toque político interessantíssimo a todo o filme. É relevante perceber que todas as personagens de Spotlight acarretam interesses, expectativas e desejos diferentes, tal como as pessoas. Por esse motivo, o filme torna-se muito pessoal e muito próximo do espectador.

Um filme que prometeu ser menos do aquilo que chegou a ser, e foi absolutamente brilhante!

quarta-feira, fevereiro 10

Revenant



A luta pela sobrevivência de um homem morto.

Revenant uma extraordinária história de sobrevivência que vive de expectativa e surrealismo. 
Alejandro González Iñárritu é um homem verdadeiramente brilhante, tanto na realização como no argumento. Os seus filmes têm magia, têm ódio, têm paixão, têm medo, têm tudo aquilo que os outros não têm. No entanto, Revenant não tem nada disso. Este filme é uma magnífica experiência cinematográfica a nível técnico, arrasa com qualquer expectativa técnica, tem uma qualidade preciosa de realização, montagem, efeitos especiais, efeitos sonoros, banda-sonora e fotografia. Contudo, perde-se num argumento pobre, que não acrescenta nada de novo. Admito que é uma história complicada de ser contada, mas aliada à brilhante realização poderia ter ido muito, mas muito mais longe. Mark L. Smith é um argumentista que conheço muito pouco, apenas vi três filmes dele, os quais não achei nada de especial. Parece-me uma personalidade ainda muito verde para este nível de filme, mas não posso afirmar claras certezas.
Leonardo DiCaprio é um maior e o melhor trunfo deste filme. Sem este actor garantidamente que este filme não seria nem um quarto daquilo que foi. DiCaprio tem o incrível dom da representação em silêncio, ele não precisa de diálogo, não precisa de som, não precisa de cenário, precisa dele próprio e de uma personagem que lhe dê espaço para fazer aquilo que ele sabe fazer melhor. O actor tem um performance magnífica, de uma beleza rara, que aliada a estrondosa e inovadora realização cria momentos magnéticos no filme.
Tom Hardy está irreconhecível, um fenomenal trabalho de caracterização. A interpretação do actor está igualmente à altura do seu "disfarce". Hardy usa e abusa da sua personagem e torná-a verdadeiramente assustadora e poderosa. É o segundo grande trunfo desta película.
Revenant é uma história banal, composta por momentos cinematográficos monumentais, por performances extraordinárias, com uma realização rara e única. Mas, infelizmente, é apenas isso, um filme visualmente explosivo.


quinta-feira, janeiro 7

The Danish Girl (A Rapariga Dinamarquesa)

The Danish Girl é a viagem de uma mulher, que a natureza fez homem. 

Tom Hooper regressa ao seu género biográfico, o género que o tornou o realizador que é hoje.
The Danish Girl é a história do primeiro transsexual a realizar uma cirurgia de mudança de sexo. A história embarca numa viagem de auto-conhecimento e procura de identidade, envolvente e intrigante. Esta história baseia-se no livro de David Ebershoff e é adaptado para o grande ecrã pela mão de Lucinda Coxon. Apesar de o argumento estar bem construído e adaptado existe um momento de ruptura na narrativa, o filme parece ser escrito por duas pessoas diferentes. Este fenómeno acontece numa altura crucial do filme, a transformação de Einer Wegener em Lili Elbe, esta quebra torna o filme muito menos empolgante e o seu final menos "feliz" e menos consistente. Há uma aceleração brusca da narrativa que não dá espaço às personagens para agirem e aos actores para as construírem.
É indiscutível que a interpretação de Eddie Redmayne é estonteante, mas mais que isso foi o trabalho de Alicia Vikander, a actriz é sem dúvida a figura central da acção e a mais bela das interpretações no filme. Alicia eleva Gerda Wegener de tal forma que o espectador sente a dor daquela mulher, o luto que ela faz do marido e a vida que ela sonhou ter para si e que por amor, não irá ter. Eddie tem um momentos menos bons no filme após a referida "ruptura" no argumento, ainda assim mantém-se bastante fiel ao papel.
A realização de Tom Hooper está fantástica, assim como a fotografia e caracterização. Apesar de tudo isto ser importante para um filme, sem dúvida que o tema da transsexualidade e o carácter pioneiro do pintor elevam a película, tornando-a mais popular. Ainda assim destaco que sem as interpretações de Eddie e Alicia (sobretudo de Alicia) este filme não seria, com toda a certeza metade daquilo que prometeu ser.

Assim, a ciência corrige os erros que a natureza deixou escapar.

terça-feira, julho 28

Game of Thrones - Season 5 Review


O jogo de impérios começa a ruir.

Já terminou a quinta temporada de Game of Thrones, o que há a dizer sobre isto?
Atrevo-me a dizer que nada de bom. Não há absolutamente nada de positivo a dizer sobre estes meses de expectativas. 
O afastamento dos livros era inevitável e expectável, até certo ponto, poderia ser algo interessante, mas não foi.
Percebe-se claramente uma diferença de rumo, algo que não é propriamente negativo, o problema é que nada parece fazer sentido e se revela haver esforço para o conseguir. O próprio diálogo está muito mais fraco, muito mais previsível e menos enigmático. Isto estrondosamente visível nas personagens de Cersei Lannister, Bronn, Varys e sobretudo Tyrion Lannister.
As interpretações não divergem muito daquilo que já foi visto, são todas muito empenhadas e interessantes. Nesta temporada destaco Sansa Stark, uma personagem para quem é escolhido um rumo penoso e exigente e, que corresponde em termos de interpretação, ao esperado. Pelo caminho ficam nomes como Arya Stark e Jamie Lannister que são esquecidos e vêem as suas personagens com uma história própria mas muito pouco fundamentada e desinteressante. A personagem de Petyr Baelish está bem explorada mas muito mal fundamentada, é um desperdício arrepiante do potencial do actor e respectiva interpretação. O mesmo acontece com nomes como Margaery Tyrell, Brienne e Theon Greyjoy que poderia ter um destino bem mais digno. Ainda acredito que isso possa acontecer na próxima temporada.
Um facto irritante que pode ser verificado em todos os episódios (com excepção do último) é que estamos cerca de 50 minutos sem acontecer absolutamente nada de interessante, e nos últimos 5 minutos parece que há uma rapidez desesperada de acabar de forma épica. Eu sei que isso também acontece nas temporadas anteriores, mas o verdadeiro problema é que não há nada de interessante para além daqueles 5 minutos finais.
Após 10 episódios de Game of Thrones é de salientar que as histórias de Jon Snow, Daenerys Targaryen e Jamie Lannister só evoluem no último episódio, facto que me deixa com vontade de só ver o último episódio da próxima temporada.
Sinceramente espero que os realizadores, argumentistas e produtores aprendam com os erros cometidos nesta temporada de "experimentações" e que consigam encontrar um novo rumo mais apelativo aos fãs de Game of Thrones
Foi uma desilusão, mas ainda há esperança, o inverno ainda não chegou...


Inside Out

A felicidade não existe sem a tristeza...

Inside out é novo filme da Disney Pixar que promete estar presente nos óscares deste ano. 
É um filme maduro e construído a pensar (literalmente) em adultos e pré-adultos, pode divertir os mais pequenos e apaixonar o graúdos.
A exploração daquilo a que chamamos emoções está construída de uma forma prudente e simples, ensina-nos quais as reacções mais básicas do ser humano, e como elas se combinam para formar aquilo a que chamamos de sentimentos. O crescimento e amadurecimento das emoções é o principal tema do filme e, por esse motivo, torna-se mais envolvente e, de certa forma, pessoal. É interessante perceber como gerimos os nossos sentimentos e como somos dominados por cada um deles.
Numa interpretação muito subjectiva deste filme, diria que todos nós, humanos, caminhamos para àquilo a que chamo de equilíbrio mental e emocional. Acho que este é o lema mais profundo e enriquecedor do filme. Conhecendo a filmografia dos criadores, Peter Docter (UP, Toy Story e Wal-E), eu diria que o centro deste projecto seja mesmo a lição de psicologia por detrás dele. Ronaldo Del Carmen é quase uma estreia nesta dimensão, pois está mais relacionado com a direcção artística (Brave e Ratatui).
Tenho pena de não ter ido ver a versão original ao invés da portuguesa, apesar disso achei que a dobragem estava interessante.
Como amante da animação e dos filmes da Disney, tenho a dizer que foi uma experiência divertida!
Promete ir aos óscares e promete ganhá-los. Vamos ver como serão os filmes de animação daqui para a frente, ainda assim, todos eles encontram o forte adversário, um filme da Disney.

domingo, janeiro 18

Late Blooming Sunflower (Osozaki no Himawari )


A terra gira em torno do sol, mas e nós girassóis? Giramos em torno de quê?

Osozaki no Himawari é uma narrativa sobre a descoberta daquilo que faz florescer a nossa essência, sobre as pontes que atravessamos, os trilhos descompensados e as mágoas recalcadas. Levanta a questão de como tudo isso transforma as nossas escolhas em perigos eminentes ou simples golpes de sorte, como cada pessoa toca a nossa vida, como cada gesto transforma a nossa percepção sobre alguém.
Tecnicamente não há nada relevante a dizer, a fotografia é muito interessante, a banda-sonora é simples (tal como todo o perfil técnico) mas cumpre o objectivo de intensificação dos momentos mais importantes. Os actores não têm grandes divergências de interpretação, talvez se note algum destaque das personagens principais, mas nada que mereça ser relatado.
Confesso que a minha experiência em cinema asiático é fundamentalmente escassa, sendo que a minha opinião não surpreenderá os mais atentos ao género. Mas daquilo que consegui perceber, a frieza que os caracteriza é somente superficial, que poderá estar relacionada com o contexto social.
O tema da adolescência é várias vezes retratado (no cinema europeu) como a fase mais traumatizante e essencial para o desenvolvimento humano. Raras vezes se retrata a passagem da juventude despreocupada para a vida responsável de adulto. É aquele momento em que percebemos que o melhor já passou, já se criaram memórias inesquecíveis, que já não temos a segurança de outrora, que há sempre alguém que espera e exige o melhor de nós, e que o pior está para vir. Pois há uma tomada de consciência aterrorizante de que os sonhos não passam de miragens complexas que alimentam o nosso espirito jovem. A realidade é que muitas dessas dúvidas não são mais do que intrigantes nós de consistência que podem ser desenlaçados de forma simples e apaixonante. O tema central aqui é “encontrar o que nos move” descobrir quem nos percebe e perceber quem nos enfrenta. É nesta apaixonante viagem metafórica sobre a descoberta do eu e da relação com os outros que se descobre que a resposta pode ser simples, basta descomplicar.
Prima pela simplicidade, não é excessivamente melodramático, garante o interesse sem o romantismo ocidental, e surpreende com lógica.


Deixo então as perguntas "existenciais": “Quem é? Sou eu! Eu quem?