A des/materialização do amor.
O realizador de Where the Wild Things Are, Spike Jonze, supera as expectativas e consegue apresentar-nos um magistral filme, com uma temática que apesar de explorada até às mais ínfimas consequências, chega-nos de uma forma original e profunda.
Esta é a história de amor entre um sistema operativo e um homem sonhador, exigente e solitário. A narrativa é profunda, provocante, envolvente e cativante, conseguimos ter um argumento que atinge níveis de perfeição tão intensos que as palavras não precisam de envolvimento musical. Por outro lado, temos uma banda-sonora que raramente precisa de palavras para suscitar arrepios. Temos a fusão perfeita, sempre nos momentos certos. A fotografia é atrevida e intimista, com momentos de uma profundidade única.
O filme tem um carácter muito próprio, pertence ao futuro, mas apresenta um guarda-roupa dos anos 50, mais outra combinação pouco usual mas que resulta perfeitamente.
A solidão tem vindo a ser explorada nos últimos anos em diversos filmes, especialmente em dramas. A troca das relações humanas por tecnologias de ponta não é uma novidade para todos nós, o que se torna verdadeiramente interessante neste filme é que não existe um ser humano do outro lado do auricular, é o grau de envolvimento que poderemos vir a ter com este tipo de "máquinas". A verdade é que as pessoas são imperfeitas, rabugentas, sensíveis, irritantes, monótonas, egoístas, enfim um sem número de coisas que podem conduzir alguém à completa loucura emocional. E se nos fosse dada a oportunidade de construir alguém à nossa imagem, alguém que fosse exactamente aquilo que nós precisamos, quando precisamos e especialmente quando queremos? É esse desejo que alimenta a paixão crescente que vamos sentindo e, é essa paixão que se torna um amor incondicional. Mas será uma máquina capaz de amar tão profundamente? Essa é a questão que o filme vem resolver. Her revela-nos que a ausência física pode ser um problema, mas com certeza que não é o problema.
Joaquin Phoenix estabelece uma relação sensual e romântica com Scarlett Johansson de uma forma absolutamente impressionante, as vozes dos actores completam-se e envolvem-se como por magia. E ao longo do tempo Phoenix consegue preencher a tela, sozinho, com a sua presença fenomenal.
Uma história de amor igual a tantas outras, com uma tamanha profundidade de sons e cores, que ultrapassa obstáculos e desenhas caminhos.
Sem dúvida um dos melhores do ano...
O Cinema é a pura arte que não se explica, é o culminar da perfeição, é por excelência a magia de poder sentir o impossível!
domingo, fevereiro 16
sexta-feira, fevereiro 14
Presa - Parte 3: Destinos
Quando Laura olhou em volta não conseguia distinguir
os limites das paredes, a brancura quase que a cegava. Estava um homem sentado
do outro lado da sala, e assim que a viu mexer a cabeça para o ver melhor, ele
levantou-se e pressionou um botão junto à porta, aproximou-se dela e
perguntou-lhe: - Sabe onde está? – Laura abanou a cabeça em sinal de ignorância
e o homem não respondeu à sua própria pergunta. Mais tarde Laura percebeu que
estava interdita de ver familiares, amigos ou qualquer outra pessoa do mundo
exterior. Estava presa num hospício e desta vez o diagnóstico era
esquizofrenia. Aos olhos do mundo Laura tinha tentado assassinar o marido e
depois tentado o suicídio, por mais que negasse ninguém acreditava numa única
palavra que cruzasse os seus lábios, o mundo estava do lado do dinheiro, e não
do lado da justiça. Esteve largos meses fechada num quarto, foi avaliada por
psiquiatras, juízes e advogados, e nenhum deles parecia ter dúvidas de que
estava louca.
Após um ano de internamento Laura teve permissão para
sair do quarto e ir à sala de convívio, não conseguir andar sem ser com a ajuda
de uma cadeira de rodas, ouvia vozes que ecoavam na sua mente e via vultos
durante toda a noite, o seu corpo estava a enfraquecer e a sua mente a
esmorecer. A primeira reação que teve quando saiu foi seguir a claridade da
janela e observar a luz do sol, os quentes raios aqueciam-lhe a pele e
feriam-lhe a vista, mas aquela luminosidade fazia-a terrivelmente feliz. Esteve
durante longos minutos em frente à janela gradeada, de repente ouviu passos aproximarem-se
dela. – Olá! És nova aqui? – Laura baixou a cabeça e fechou os olhos,
conseguia-se ouvir os seus sussurros: - Ele não é real! Ele não é real!
Concentra-te! Ele não é real! – O homem fitou-a e respondeu aos sussurros: -
Gabriel! Muito prazer! – Laura olhou para ele com os olhos cobertos de
volumosas lágrimas, e perguntou: - Como é que eu sei que és real? – O homem
sorriu de forma sarcástica e respondeu: - Essa é a parte engraçada de ser
maluco… É que nunca se sabe o que é ficção! – Laura percebeu a ironia na voz
dele, mas não se conseguia rir, essa era uma memória longínqua e perdida no
tempo. Gabriel estava desiludido por não ter surtido efeito na mulher que ele
achava que precisava de sorrir. – Bem, o meu humor é demasiado negro. –
Conforme respondeu ao olhar entristecido de Laura, ele sorriu e voltou a
caminhar. Laura fechou os olhos com uma enorme força e reabriu-os, Gabriel
tinha desaparecido. Seria ele imaginário?
quinta-feira, fevereiro 6
Presa - Parte 2: Loucura
No dia seguinte Laura não se conseguia mexer, o seu
corpo estava dorido e cada movimento era uma tortura. Dera entrada do hospital
na noite anterior, não precisava de um médico para perder o filho, o pai do
feto tinha tratado do assunto. Estava deitada na cama do hospital e os pais já
tinham ido vê-la, ambos perceberam o que se tinha passado e tentaram agir em
conformidade, mas o poder e o dinheiro do genro eram implacáveis e difíceis de
alcançar. Laura contou a verdade aos pais na terceira visita, eles
explicaram-lhe que Rui tinha alegado que ela tinha ataques de histeria
constantemente e que tentara agredi-lo. Ela foi analisada por um psiquiatra que
alegou que Laura estava traumatizada e que tinha sintomas de bipolaridade,
segundo a descrição feita pelo marido. Cada vez que ele entrava no quarto dela,
Laura gritava como se a estivessem a torturar, e dizia que nunca mais o queria
ver próximo dela, tomou doses abismais de medicação e não melhorava, piorava a
cada dia e não conseguia sair do hospital. Meses depois Rui levou-a novamente
para casa, ela não conseguia encará-lo e o medo começava a ser uma constante. –
Porque fizeste isto? – Porque te amo! – Respondeu Rui num tom doce. Laura não
se atreveu a responder, não se mexeu e limitou-se a deitar-se na cama.
Dias depois de estar em casa Laura quis sair, vestiu
uma roupa confortável e desportiva e foi para o café onde ia habitualmente. O
dono do estabelecimento desejou-lhe as melhoras, e ela sentou-se na mesa do
canto a ler uma revista. – Laura? – Ela levantou os olhos e seguiu a voz rouca
que a chamava, respondendo: - Artur! – Levantou-se num ápice e abraçou o seu
amigo e par. – Como estás rapariga? Há imenso tempo que não te vejo! Estás
gloriosa como sempre! – Laura riu-se e respondeu: - E tu és um exagerado como
sempre! Como está o Jorge? Já marcaram o casamento? – Ele está óptimo, e eu
também! Vamos casar em Dezembro! Mal posso esperar! – Ficaram sentados a
conversar durante horas, até que a escuridão de inverno começou a cair, e Laura
teve de regressar a casa. Quando pôs a chave na porta a governanta abriu-a do
outro lado, o pesar do olhar da mulher não fazia prever nada de bom. – O Senhor
Rui está à sua espera no escritório. – O corpo de Laura estremeceu, o sangue
começou a ser bombeado a uma velocidade vertiginosa e o seu estomago
contorceu-se. Assim que abriu a porta do escritório viu o marido sentado no
sofá com um copo de whisky na mão
direita, não fechou a porta, mas também não importava. Rui levantou-se e foi em
direcção a ela, Laura começou a recuar e a gritar, conforme se virou para
começar a correr ele agarrou-a pelo cabelo e disse-lhe: - Só porque não quero
filhos não quer dizer que me andes a trair. – Laura ouviu o copo a
estilhaçar-se no chão e sentiu uma picada no pescoço. Acordou num quarto
branco, gelado e amarrada. Não podia fugir.
terça-feira, fevereiro 4
Presa - Parte 1: Ilusão
Ninguém sabe como Laura conheceu Rui, mas todos
diziam que eram perfeitos um para o outro, pareciam saídos de um conto de
fadas, ele era milionário, dono de uma multinacional, sensual, ambicioso e
dedicado. Ela era jovem, atraente, delicada e sensível, era bailarina, uma
verdadeira artística, com tudo aquilo a que o nome tinha direito.
Pouco tempo depois de se conhecerem casaram, segundo
o que contam, a cerimónia foi perfeita, digna de príncipes e princesas. Os pais
dele não aprovavam o casamento, pois ela era demasiado humilde, os pais dela
achavam que ela era demais para ele.
Laura já tinha o vestido de noiva amarrotado e a
festa estava a terminar, o pai dela aproximou-se quando a viu sozinha, e
perguntou-lhe em sussurro: - É isto mesmo que tu queres? – Laura respondeu sem
hesitação, com um sorriso nos lábios e repleta de felicidade: - Sim! Sem
dúvida! – O pai respirou o ar saturado e engoliu as palavras, abraçou a filha e
desejou que a sua intuição estivesse errada.
A lua-de-mel foi nas Caraíbas, num paraíso longínquo
e tropical, meses depois do casamento Laura tinha uma notícia para Rui. Para o
surpreender correu para a loja de roupa de bebé e comprou umas botas amarelas,
escreveu um postal que dizia: “Parabéns Papá!”; fechou tudo numa caixa de
presente. Quando Rui chegou a casa, exausto, Laura cumprimentou-o alegre e
irremediavelmente feliz, apesar de achar estranho o comportamento da mulher,
Rui não se manifestou. – Comprei-te um presente! – O sorriso de Laura era
espelho da sua notícia, porém Rui não compreendia o porquê, e perguntou: - O
que é? – Abre! – Rapidamente abriu a caixa, viu o seu conteúdo e abriu o postal.
O olhar cansado e gasto de Rui, deu lugar a uma expressão de insegurança, medo
e revolta. – Tu só podes estar a brincar! – Laura desfez o seu sorriso e
perguntou confusa: - Não, não estou! Não estás feliz? – Rui atirou a caixa para
o chão e respondeu enraivecido: - Não! Isto vai estragar a minha vida toda! –
Laura ficou em choque e respondeu secamente: - Isto é o teu filho! – Rui pegou
no telemóvel e fez uma chamada. – Temos de conversar Rui! – Ele olhou para ela
e respondeu: - Não temos nada para conversar, vou tentar resolver o problema! –
Laura não percebeu a afirmação: - Resolver o problema? O que é que isso quer
dizer? – Rui revirou os olhos e respondeu implacavelmente: - Vais acabar com
isso amanhã! Estou só a ligar ao nosso médico! – O choque apoderou-se de Laura,
e a revolta começava a surgir: - Tu não podes fazer isso! – Não posso? Então
observa! – Foi nesse momento que Rui começou a agredir violentamente Laura, e o
pesadelo da vida dela começou. Estava presa, e brevemente seria uma presa.
sábado, fevereiro 1
American Horror Story Coven (Season 3) - Finale Review
E fecha-se um ciclo de bruxaria e suspense.
American Horror Story é um nome que desperta atenção e interesse, ou talvez consiga criar desconforto e desassossego, mas a verdade é que todas estas sensações, que outrora foram verdade, tornaram-se agora um foco de publicidade enganosa. O inicio da série e o seu elenco prometia mais uma temporada de terror, mas a verdade é que aos poucos foi-se perdendo a magia e o imprevisível macabro tornou-se um insípido enredo de histórias pouco coesas e esperadas.
As interpretações da magnifica e poderosa Jessica Lange, da assustadora Kathy Bates, da lunática Frances Conroy e a sensual Angela Bassett foram os pontos mais altos de todos os episódios, e provaram que as mulheres podem ser verdadeiramente perturbadoras e instáveis.
O que falhou em Coven foi a expectativa que as temporadas anteriores geraram, e que foram corroídas por momentos musicais insustentáveis na narrativa, suspense forçado e alguma leveza na fotografia.
Não há muito mais a dizer desta temporada, apenas que desiludiu, que teve um final insípido, previsível, romântico, e que se esperava um argumento mais pesado, entrelaçado e com maiores e melhores reviravoltas.
Destaco ainda a performance de Evan Peters que foi magistral, a insegurança que o actor transmite, a instabilidade, o fascínio e o medo que se geram em torno da personagem é incrivelmente arrebatador, contudo, temos a destruição massiva de toda uma personalidade no final da temporada, que culmina na redução de Kyle a um cliché insignificante e novamente insípido.
Não percamos a esperança, para o ano temos mais (e esperemos que melhor) American Horror Story.
American Horror Story é um nome que desperta atenção e interesse, ou talvez consiga criar desconforto e desassossego, mas a verdade é que todas estas sensações, que outrora foram verdade, tornaram-se agora um foco de publicidade enganosa. O inicio da série e o seu elenco prometia mais uma temporada de terror, mas a verdade é que aos poucos foi-se perdendo a magia e o imprevisível macabro tornou-se um insípido enredo de histórias pouco coesas e esperadas.
As interpretações da magnifica e poderosa Jessica Lange, da assustadora Kathy Bates, da lunática Frances Conroy e a sensual Angela Bassett foram os pontos mais altos de todos os episódios, e provaram que as mulheres podem ser verdadeiramente perturbadoras e instáveis.
O que falhou em Coven foi a expectativa que as temporadas anteriores geraram, e que foram corroídas por momentos musicais insustentáveis na narrativa, suspense forçado e alguma leveza na fotografia.
Não há muito mais a dizer desta temporada, apenas que desiludiu, que teve um final insípido, previsível, romântico, e que se esperava um argumento mais pesado, entrelaçado e com maiores e melhores reviravoltas.
Destaco ainda a performance de Evan Peters que foi magistral, a insegurança que o actor transmite, a instabilidade, o fascínio e o medo que se geram em torno da personagem é incrivelmente arrebatador, contudo, temos a destruição massiva de toda uma personalidade no final da temporada, que culmina na redução de Kyle a um cliché insignificante e novamente insípido.
Não percamos a esperança, para o ano temos mais (e esperemos que melhor) American Horror Story.
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